Os nomes sonantes da política brasileira que se afundaram nas urnas

Nomes como Sarney ou Collor de Mello, presentes na política brasileira nas últimas décadas, desapareceram dos centros de poder nacional e regional.

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Seis décadas depois, a família do antigo Presidente José Sarney (na fotografia) não terá nenhum representante nem em Brasília nem no governo do Maranhão © Ueslei Marcelino / Reuters

A primeira volta das eleições brasileiras alterou o puzzle da política do Brasil desde a democratização, em 1988, constituído principalmente por clãs que dominaram todas esferas do poder. Muitas dessas oligarquias e famílias conheceram o seu fim com a votação do dia 7 de Outubro.

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A primeira volta das eleições brasileiras alterou o puzzle da política do Brasil desde a democratização, em 1988, constituído principalmente por clãs que dominaram todas esferas do poder. Muitas dessas oligarquias e famílias conheceram o seu fim com a votação do dia 7 de Outubro.

Nomes como Sarney ou Collor de Mello desapareceram dos centros de poder nacional e regional.

Os Sarney

Seis décadas depois, a família do antigo Presidente José Sarney (1985-1990) não terá nenhum representante nem em Brasília nem no governo do Maranhão, estado que o patriarca governou nos anos 1960.

A filha do ex-presidente, Roseana Sarney (Movimento Democrático Brasileiro, esquerda), perdeu a eleição para o governo do Maranhão (cargo que já ocupou anteriormente), com uma diferença de quase um milhão de votos para o seu rival, Flávio Dino (Partido Comunista do Brasil).

Por sua vez, Sarney Filho (Partido Verde), deputado federal e ministro do Meio Ambiente do actual Governo de Michel Temer, não conseguiu ser eleito para o Senado, tendo ficado em terceiro lugar com 13,2% dos votos.

O único representante dos Sarney na política será Adriano, neto do antigo Presidente, que foi reeleito como deputado estadual no Maranhão.

Os Collor

A família de outro ex-Presidente, no caso Fernando Collor de Mello, também sofreu pesadas derrotas eleitorais. Fernando James (Partido Trabalhista Cristão, centro-direita), filho de Fernando Collor, recolheu apenas 16 mil votos, falhando a eleição como deputado federal; a ex-primeira-dama e ex-mulher de Fernando Collor, Rosane Collor, candidatou-se à Assembleia Legislativa de Alagoas, mas conquistou apenas 459 votos; e Thereza Collor, viúva do irmão do ex-Presidente, conseguiu recolher apenas nove mil votos na eleição para a Câmara dos Deputados por São Paulo.

O próprio Fernando Collor anunciou, no início do ano, a sua candidatura à presidência do Brasil. Acabou por desistir por falta de apoios. Avançou depois para a corrida ao governo de Alagoas, mas desistiu também.

Os Cunha e Crivella

Houve outros apelidos sonantes da política brasileira que foram barrados nas urnas. Por exemplo, Danielle Cunha (MDB), filha de Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados e que se encontra preso na sequência da Lava-Jato, ficou longe de ser eleita para o cargo de deputada federal, tendo registado pouco mais de 13 mil votos.

Também Marcelo Crivella Filho (Partido Republicano Brasileiro, centro-direita), filho do actual presidente da Câmara do Rio de Janeiro, o bispo evangélico Marcelo Crivella, não foi capaz de chegar à Câmara dos Deputados.

Esta renovação política é também latente nos números globais das eleições para ambas as câmaras do Congresso. Para a Câmara dos Deputados, houve uma taxa de renovação de 53%, quando, nas eleições de 2014, foi de 47%. É a primeira vez desde 1998 que menos de metade da Câmara será composta por deputados reeleitos. A maioria é, assim, estreante.

O principal motor desta alteração foi o Partido Social Liberal (PSL) que, à boleia do seu candidato presidencial, Jair Bolsonaro, passou de oito deputados para 52. 

Além disso, os novos 513 deputados federais estão distribuídos por 30 partidos, um recorde na democracia brasileira.

No Senado, a renovação foi ainda maior: apenas oito dos 54 lugares em disputa serão ocupados por senadores reeleitos para o cargo.

Dilma e Fernando Henrique

Outra das figuras que marcou a política brasileira nos últimos anos e foi a eleições depois de uma destituição da presidência, é Dilma Rousseff (Partido dos Trabalhadores, esquerda). Na eleição para o Senado pelo estado de Minas Gerais, não passou do quarto lugar, com pouco mais de 15% dos votos.

O Partido da Social Democracia Brasileira (centro) - partido de Fernando Henrique Cardoso, Presidente do Brasil durante dois mandatos (1995-2003) -, e que esteve sempre nas principais esferas do poder desde a democratização, tendo sido também o principal rival do PT nos seus 14 anos de governação com Lula da Silva e Dilma, caiu também com estrondo.

O seu líder e candidato presidencial, Geraldo Alckmin, não chegou aos 5%. Este resultado contrasta com o obtido nas últimas eleições, em 2014, quando o então candidato “tucano” (o símbolo do partido), Aécio Neves, foi à segunda volta com Dilma. Perdeu a eleição, tendo conquistado mais de 48%, na disputa eleitoral mais renhida do Brasil.