Dos Feelies a The Coup, passando pela tentativa de assassinato de Bob Marley

Dos filmes sobre música e dos filmes que levam à música. E dos Podcasts: há tantos que é impossível acompanhar tudo

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Há filmes sobre música e filmes que levam à música, mesmo que uma das minhas experiências recentes favoritas em sala, ver finalmente Heat, de Michael Mann, no grande ecrã da Cinemateca, não me tenha marcado nesse departamento - problema que tenho com as bandas sonoras do realizador. Antes de Smithereens, foi Sorry to Bother You, a estreia na escrita e realização de Boots Riley, o homem por trás do grupo de rap The Coup desde o início dos anos 90 e um dos fenómenos do ano nos Estados Unidos. O bizarro filme, uma fábula satírica e absurda com Lakeith Stanfield e Tessa Thompson passada em Oakland, não tem, até agora, data de estreia em Portugal (o próprio Riley queixa-se, em entrevistas, do velho mito de Hollywood de que "filmes negros" não vendem). The Coup é especialmente interessante para mim quando a música se insere no contínuo Roger Troutman-George Clinton-DJ Quik. A par de Room 25, o álbum de Noname, a rapper de Chicago, é o rap que me tem passado mais pelos ouvidos.

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Smithereens, de Susan Seidelman, o filme centrado na cena punk nova-iorquina do início dos anos 1980 recentemente reeditado pela Criterion, arranca com Susan Berman a roubar um par de óculos a uma senhora no metro de Nova Iorque e a fugir a correr. Tudo ao som de uma versão instrumental de The Boy With the Perpetual Nervousness, de Crazy Rhythms, o primeiro álbum dos Feelies. Depois de anos a valorizar – muito por culpa do delicioso teledisco de Away, assinado por Jonathan Demme – Only Life, o terceiro disco, voltei a isso. O filme não melhora depois disso, mas é uma óptima cena de abertura. Assim de cabeça, é a melhor cena de abertura de um filme norte-americano de 1982 a seguir a Fast Times at Ridgemont High, de Amy Heckerling, que abre com We Got the Beat, das Go-Go's, e me fez, há muitos anos, querer descobrir a música delas.

Nem só de música vivem os ouvidos. Podcasts, e há tantos que é impossível acompanhar tudo, passam-me pela cabeça muitos, de cultura ou cinema como Las Culturistas ou Unspooled, de entrevistas como Bullseye, Fresh Air e The Treament, ou sobre cultos, como o canadiano Escaping NXIVMThe Good Place, a brilhante sitcom de Mike Schur, é das minhas séries de televisão favoritas. The Good Place: The Podcast, que a disseca episódio a episódio, pode não ser fulcral, mas é relaxante e muitas vezes interessante, especialmente quando o próprio Schur é convidado. Esse tipo de análise também é boa para música, como prova I Only Listen to the Mountain Goats, em cuja primeira temporada o próprio John Darnielle, dos Mountain Goats, falou faixa a faixa do clássico All Hail West Texas

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You Must Remember This, em que Karina Longworth conta as "a História secreta e/ou esquecida do primeiro século de Hollywood", voltou recentemente para uma minissérie sobre as mulheres da vida de Howard Hughes, como prelúdio ao livro que lançará em Novembro sobre o mesmo tema. Ainda em livros e a olhar para o passado, acabei há pouco tempo de ler The Comedians: Drunks, Thieves, Scoundrels and the History of American Comedy, uma História da comédia norte-americana moderna, cheia de pessoas que roubavam piadas e mafiosos, que vai dos esgotamentos nervosos de Jonathan Winters à garra de Joan Rivers, passando pelo improviso da dupla de Mike Nichols e Elaine May.

Voltando aos podcasts, Disgraceland conta, nem sempre da melhor maneira, os comportamentos mais sórdidos de nomes sonantes da música, das mortes misteriosas das esposas de Jerry Lee Lewis ao fogo posto causado por Lisa "Left Eye" Lopes, das TLC. Mais profundo é o primeiro episódio de ReMastered, série de documentários do Netflix sobre histórias notáveis (e cheias de crime e violência) de ícones da música, que é sobre a tentativa de assassinato de Bob Marley em 1976. Ainda no Netflix, Quincy, o documentário sobre Quincy Jones co-realizado pela filha Rashida, pode não conter grandes revelações como as que o músico lendário tem feito em entrevistas sobre a relação entre Richard Pryor e Marlon Brando, mas não deixa de se ver bem.

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