The Good Place, de volta ao dilema de ser boa pessoa

A sitcom criada por Michael Schur com Kristen Bell e Ted Danson chegou à terceira temporada esta sexta-feira.

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The Good Place voltou para a terceira temporada DR

Após a morte, um grupo de estranhos junta-se e, num sítio que se pareceu com o Céu, decidem todos aprender a ser boas pessoas. É esta, muito vagamente, a premissa de The Good Place, a sitcom da NBC criada por Michael Schur que lida com filosofia moralista, o que é ser bom, humanidade, redenção e se as pessoas podem realmente mudar. Tudo isto enquanto tem algumas das melhores piadas (e piores, deliberadamente, com alguns dos trocadilhos mais estúpidos que a televisão já conheceu) de uma série cómica que esteja no ar neste momento. E, mesmo que debata temas sérios e pesados, é quase sempre capaz de deixar os espectadores aconchegados e é por vezes tocante. Apesar de não ser um conteúdo original do serviço de streaming, a terceira temporada chegou esta sexta-feira ao Netflix, com um episódio novo a sair por semana, no dia a seguir a passar nos Estados Unidos.

The Good Place é também extraordinária por um elenco sem elos fracos, ao qual se vão juntando, à medida que a história avança, actores maravilhosos. Kristen Bell, de Veronica Mars, série que vai ser em breve reavivada, é Eleanor Shellstrop, uma vigarista do Arizona que nunca se preocupou com os outros na vida; William Jackson Harper, que praticamente só tinha feito pequenos papéis até agora, é Chidi Anagonye, filósofo moralista senegalês que não consegue decidir nada; Jameela Jamil, que era apresentadora de televisão no Reino Unido e nunca tinha representado, é Tahani Al-Jamil, uma socialite e filantropa britânica; enquanto Manny Jacinto, também sem grandes créditos anteriores, é Jason Mendoza, um DJ da Florida que não deve muito à inteligência.

Este é o quarteto de protagonistas, ao qual se junta Ted Danson, um dos melhores actores televisivos de sempre, no papel de Michael, um demónio que é o arquitecto do sítio para onde as personagens vão depois de morrerem, e D'Arcy Carden, outra actriz que ainda não tinha tido grandes papéis antes, que faz de Janet, uma guia do Além que passa a vida a lembrar as pessoas de que não é um robô, entre outros, como Marc Evan Jackson, que na vida real apresenta o sempre interessante The Good Place: The Podcast, em que os episódios da série são vistos à lupa. No final da época anterior, a sempre hilariante Maya Rudolph, ex-Saturday Night Live e actualmente em Forever, série que partilha argumentistas e alguns elementos com esta, juntou-se ao elenco, e estes novos episódios contam com a britânica Kirby Howell-Baptiste, da infelizmente não estreada entre nós Killing Eve, no papel de uma neurocientista.

Michael Schur, o responsável pela série, é o co-criador de Parks and Recreation e Brooklyn Nine-Nine depois de ter passado por Saturday  Night  Live  e pela versão americana de O Escritório. The Good Place partilha bastante do ADN e do sentido de humor e de decência humana dessas séries, mas é muito mais serializada e ambiciosa, numa trama em que cada momento é importante e piadas que são feitas e parecem ser insignificantes num episódio poderão vir a tornar-se partes importantes da história cinco capítulos à frente. Ainda assim, sabe dar valor a cada episódio, à importância de contar uma história com princípio, meio e fim, mesmo que recorra frequentemente a surpresas e cliffhangers.

É por causa dessa ideia de reveses que se torna complicado falar da série sem entrar nos chamados spoilers. Este parágrafo e o seguinte contêm alguns sobre a trama da série: cada nova temporada de The Good Place tem sido, até agora, um reinício. As personagens são as mesmas, mas os quatro principais não têm memória do que lhes aconteceu antes, além de haver toda uma nova realidade para explorar. É assim desde que, no final da primeira época, houve uma reviravolta que mudou a mecânica da série. A esse momento seguiram-se outras guinadas na história, se bem que nenhuma tenha sido tão surpreendente como a original. No final da época anterior, já se sabia o que ia acontecer nesta: os protagonistas voltaram à Terra, como se nunca tivessem morrido, numa experiência que visa mostrar que podem tornar-se melhores de uma forma altruísta. Com alguma assistência: Ted Danson voltou, 25 anos após o final de Cheers, Aquele Bar, a estar atrás do balcão de um bar, de uma maneira que poderia ter sido gratuita mas foi totalmente merecida.

O problema é que mudarem e ficarem melhores pessoas não é fácil. Tal como outras séries, como a bem mais pessimista BoJack Horseman, não se esquecem de dizer, é um esforço continuado e chato, não uma decisão que se toma uma vez e pronto. E é ainda mais difícil neste caso: os protagonistas não têm memória de alguma vez se terem conhecido e não estão juntos. O que segue é, como sempre, surpreendente. E óptimo.

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