No combate ao fascismo não há espaço para a “neutralidade”

Derrotar Bolsonaro exigirá a unidade das forças democráticas brasileiras e uma forte mobilização popular.

Quando, em 2016, se consumou o golpe de Estado institucional no Brasil, que levaria à destituição da legítima Presidenta Dilma Rousseff, foram abertas as portas para o preocupante momento político que hoje se vive neste país latino-americano. Não posso deixar de recordar o branqueamento que então foi feito do golpe, seja pela direita, seja pela social-democracia no Parlamento Europeu (PE) – nomeadamente no contexto de reuniões da EUROLAT ou da delegação UE-Brasil –, onde deputados portugueses do PS, PSD e CDS negavam o golpe e a evidente degradação da democracia naquele país, sendo por isso cúmplices, por omissão, desse grave momento para o Brasil e o seu povo.

Durante dois anos, com o brutal agravamento da situação económica, social e política no Brasil em resultado da política de Temer e do seu governo, que tomou de assalto o poder no país para inverter mais de uma década de progresso social, alimentou-se o caldo de cultura que contribuiria para o resultado da primeira volta das eleições presidenciais no Brasil. Explorando os gravíssimos problemas sociais que afectam uma parte muito significativa do povo brasileiro e a profunda crise das instituições democráticas, em que a politização da justiça e a corrupção desempenham papel particularmente importante, foi montada uma colossal operação de manipulação promovida pelos principais órgãos de comunicação social e pelo uso das redes sociais, que determinaram o resultado da primeira volta.

A retórica “anti-sistema”, veiculada nessa acção mediática, procurou alimentar a ideia de vitória à primeira volta de Bolsonaro, um candidato que viu reunir-se em seu redor os interesses dos grandes grupos económicos e financeiros, do grande latifúndio, dos sectores mais reaccionários da sociedade brasileira, e cujo programa assenta no aumento da exploração, num violento ataque aos direitos sociais e laborais do povo brasileiro. Um candidato apologista da ditadura fascista militar que marcou duas décadas da história do Brasil, que tem pregado o ódio, a intolerância e o racismo, abrindo campo a ofensas à liberdade e à democracia, com hediondos episódios que se têm multiplicado, protagonizados por apoiantes de Bolsonaro.

Como o demonstra a evolução na UE, são as profundas injustiças e desigualdades sociais geradas pelo capitalismo que alimentam o fascismo. É este o caldo de cultura que torna real a possibilidade da chegada ao poder de uma candidatura da extrema-direita, ensombrando o Brasil com o perigo de inscrever de novo o fascismo na sua história, com os horrores que o povo brasileiro certamente não esqueceu, cujos impactos se abateriam sobre todo o continente latino-americano.

Funesto objectivo que foi para já gorado, com os resultados de dia 7 de Outubro a obrigarem o candidato da extrema-direita a disputar com Fernando Haddad a segunda volta. Derrotá-lo exigirá a unidade das forças democráticas brasileiras e uma forte mobilização popular, em torno de um compromisso que integre objectivos que dêem resposta efectiva às necessidades e aspirações do povo brasileiro.

Mas exige também a expressão internacional de solidariedade, com aquelas forças, somando vozes à sua luta para derrotar a ameaça do fascismo. Comprometidos, como sempre, com essa solidariedade, os deputados do PCP no PE apelaram à subscrição do "Manifesto internacional contra o fascismo no Brasil", que foi correspondido por deputados de diferentes grupos políticos do Parlamento Europeu.

É possível barrar o caminho ao fascismo no Brasil! Aos democratas, aos defensores da liberdade, lá como cá, urge a assunção, tal como referido neste Manifesto, de que “Entre a democracia e o fascismo não pode haver neutralidade!”! Quem entenda assumir uma dita “neutralidade” estará objectivamente a branquear o perigo do fascismo, pois nesta questão “não há lugares em cima do muro”.

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