Alemanha: portal da extrema-direita para denúncia de professores alvo de piratas informáticos

Partido radical AfD quer que alunos façam denúncias de professores que não mantenham “neutralidade política”.

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Alexander Gauland no Parlamento. A AfD critica a imprensa e, agora,também os professores FELIPE TRUEBA/EPA

Foi mais um golpe do partido de direita radical alemão Alternativa para a Alemanha (AfD): criar uma plataforma online em que alunos possam denunciar professores, do ensino preparatório ou universitário, que não mantenham “neutralidade política”.

A proposta provocou uma tempestade imediata de críticas dos outros partidos e de associações de professores por fomentar uma cultura de denúncia e não de discussão, e lembrar práticas de serviços como a Gestapo do regime nazi ou a Stasi da ex-RDA (República Democrática Alemã), onde as denúncias de opositores eram encorajadas e recompensadas.

A ministra da Justiça, Katarina Barley, do Partido Social-Democrata (SPD), foi uma de muitas vozes a fazer esta comparação: “Organizar denúncias é uma ferramenta de ditaduras”, disse a responsável ao Frankfurter Allgemeine Zeitung. “Quem usar esta ferramenta enquanto partido, ‘expuser’ professores indesejáveis e os envergonhar publicamente revela o seu conceito de democracia.”

A plataforma inicial foi posta a funcionar na cidade-estado de Hamburgo, que, sob o tema “neutralidade nas escolas”, apela aos alunos para discutir com professores quando acharem que a neutralidade não é respeitada e, caso isso funcione, enviem denúncias ao partido.

Esta página pretendia ser um projecto-piloto de um projecto a expandir aos restantes 15 estados federados. O seguinte foi o de Baden-Württemberg, onde o partido pôs a funcionar duas plataformas: uma para queixas em relação a professores do ensino básico e secundário e outra para denúncias de professores do ensino superior, ligadas a um deputado no parlamento estadual de Baden-Württemberg. O deputado do parlamento do estado Stefan Räpple queixou-se de professores que vão dar aulas com Tshirts dizendo "Fuck AfD".

Mas estas duas páginas, online desde quinta-feira, foram rapidamente alvo de um ataque informático e estavam esta sexta-feira indisponíveis.

Estas páginas pareciam ser diferentes da principal de Hamburgo já que possibilitariam a divulgação pública do nome dos professores – algo que esbarraria quase certamente na forte lei da privacidade do país.

Os sindicatos dos professores dizem que estes estão obrigados à neutralidade política por uma lei de 1976, mas é muito raro que haja acusações: as duas principais organizações conhecem um ou dois casos de professores acusados nas últimas décadas, segundo o jornal Frankfurter Rundschau.

A AfD é um partido anti-imigração, anti-refugiados, e anti-islão, com episódica relativização dos crimes da Alemanha nazi. É populista, afirmando-se representante da “vontade do povo” contra a “elite”, fomentando um clima de “nós contra eles”.

A ideia de que há uma onda de reacção da “elite” contra o partido parece ser uma nova linha de acção do partido, que entrou no Bundestag (Parlamento) pela primeira vez nas eleições de 2017 com 13%: depois de queixas sobre representações negativas nos meios de comunicação social da parte de responsáveis do partido, surgem agora as queixas de que o partido é alvo de uma campanha contra si por parte de professores.

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