O centenário de Rita Hayworth, a minha estrela favorita

Ainda que não tenha sido uma actriz consumada como Bette Davis, Rita mostrou paulatinamente graças do seu talento, provando que é muito mais do que um mito erótico.

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Rita Hayworth DR

Descobri-a em Outubro de 2009, numa aula de História da Arte, era eu caloiro em Ciências da Comunicação. Apareceu, reluzente e lânguida, num diapositivo naquela manhã de sexta-feira. A partir daí, assombrou constantemente os meus dias. Falo de Rita Hayworth (1918-1987), a minha estrela favorita, de quem possuo três posters e quatro livros. Faria, neste Outubro de 2018, 100 anos de vida. Deste modo, e sendo também uma das maiores lendas da terra de Tinseltown, creio que merece o meu tributo.

Sei que é algo fútil interessar-me por uma celebridade essencialmente pelo seu aspecto físico. Mas, convenhamos, estamos a falar de uma beleza absoluta, daqueles casos que nos confirmam que essa qualidade, talvez sobrevalorizada, não é assim um conceito tão subjectivo. Além disso, as estrelas vivem da sua imagem, desses close-ups que nos sugam a alma e que as garantem como tal. Garbo é o melhor exemplo, mas Rita, com a sua hibridez étnica fascinante (hispânica, da parte do pai, e “americanizada”, graças ao seu cabelo tingido de ruivo, lascivamente caindo sobre os seus ombros), tem também um poderoso magnetismo.

Rita foi uma das estrelas mais glamorosas da era de ouro de Hollywood (e a maior das poucas movie stars da Columbia Pictures), a segunda pin up mais popular da Segunda Guerra Mundial, uma das muitas rainhas oficiais do technicolor, além de ter sido intitulada The  Love  Goddess, um termo mais etéreo e, por isso, grandioso, do que os de outras atrizes va va voom da época como The  Sweater  Girl ou The  Oomph  Girl. Curioso mencionar que a própria Rita considerava essa alcunha irónica, dada a vida amorosa completamente atribulada. A sua mais famosa citação é: “Os homens deitam-se com Gilda e levantam-se comigo”. Esta amarga e objectificante reflexão patenteia a maldição de se ser um sex  symbol. Quantos espectadores não terão suspirado pela empertigada Gilda, o seu papel mais atraente e conhecido, ignorando a personalidade vulnerável e melancólica daquela mulher originalmente chamada Margarita Cansino?

Se, assim como a maioria, me apaixonei primeiramente pela sua beleza, logo a minha afeição imagética se tornou num carinho para com uma mulher que enfrentou várias dificuldades, demonstrando também ser alguém despretensioso e afável.

Ainda que não tenha sido uma actriz consumada como Bette Davis, Rita mostrou paulatinamente graças do seu talento, provando que é muito mais do que um mito erótico. Contrariando aqui a tese amplamente conhecida da investigadora Laura Mulvey de que a mulher, no cinema clássico de Hollywood, foi constantemente explorada como um objecto erótico, acredito que Rita foi capaz de se afirmar como um sujeito activo. A ensaísta Adrienne McLean defende precisamente esta mesma ideia. Segundo ela, quando Rita dança sensualmente ao som da icónica Put the  Blame on Mame, demonstra poder, carisma e independência. O mesmo diz a autora sobre o subvalorizado Affair  in  Trinidad  (1952). Aqui, a ruiva escarnece do voyeurismo masculino ao cantar “... Can’t help the mad desire that’s deep inside of you. You realize the fault isn’t mine, I’m not to blame”.

Rita, ainda que prevaleça sempre como uma deusa erótica (o que se compreende, dada a sua beleza lasciva, mas igualmente mélica), merece ser mais valorizada como uma actriz de talento considerável e bailarina experiente.

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