Pão para almoçar

Uma das frases que já ninguém diz é "não tenho pão para almoçar". Antigamente não só não se almoçava sem pão como o pão era o almoço, empurrado por um pedaço de toucinho, chouriço, queijo ou peixe frito.

Uma das frases que já ninguém diz é "não tenho pão para almoçar". Antigamente não só não se almoçava sem pão como o pão era o almoço, empurrado por um pedaço de toucinho, chouriço, queijo ou peixe frito.

As pessoas sentavam um pão grande nos joelhos e com um canivete iam destacando ripas gordas. Depois pegavam no chouriço e cortavam um naco. Finalmente juntavam os dois ingredientes para ir à boca.

Quando era pequenino adorava a companhia dos homens das obras e eles também gostavam da minha. Odiávamos os capatazes que não gostavam das nossas conversas.

Encorajaram-me sempre a dizer o que me vinha à cabeça. A primeira coisa que perguntei foi "porque é que não faz sanduíches em casa em vez de estar aqui a comer dessa maneira?"

Ele respondeu "eu sei lá o pão que vou comer ou a fome que vou ter!". Dizia que o pão assim sabia melhor porque o pão cortado começa logo a ficar rijo.

Uma vez fui buscar uma faca de pão para ajudá-lo e ele apostou comigo que com o canivete era capaz de cortar uma fatia mais direita do que eu com a faca. Por muito cuidado que eu tivesse ele ganhava sempre.

Ensinou-me também que o pão sabe melhor em nacos incertos do que em fatias certinhas.

Ao princípio eu pensava muitas estupidezes: por exemplo, que comiam tanto pão (e não comiam manteiga) porque eram pobres. Mas eles comiam muito pão porque gostavam mesmo de pão e o pão era sempre muito, muito bom.

Ensinaram-me a comer bacalhau cozido numa lata de tinta. Era delicioso comê-lo no pão  - mesmo quando não havia azeite.

Sugerir correcção
Ler 23 comentários