O suor salvífico

Passei a pensar no suor como produção inteligente de água para me refrescar. Para se evaporar é preciso calor e o calor que usa é precisamente aquele que temos a mais e que queremos eliminar.

Numa carta ao London Review of Books Malcolm McGeoch diz que "temos uma temperatura interna de 37 graus que controlamos através da transpiração (ou ar condicionado). Não podemos sobreviver acima duma 'temperatura de bulbo húmido' de 35 graus, ou seja, uma temperatura de 35 graus com 100 por cento de humidade - ou a uma temperatura mais alta com uma humidade inferior".

É assustador saber que podemos morrer com 35 graus se o ar estiver carregado de água. A transpiração pára porque o suor não consegue evaporar-se.

Por outro lado, para quem odeia estar sempre a suar, é bom ver a transpiração como um agente de arrefecimento. Graças à carta comecei logo a ver o lado bom da questão.

Mal comecei a suar disse para mim "Óptimo. Estou cheio de calor mas vejo que já arrancou o sistema de arrefecimento. Vamos ver em quanto tempo me restitui a frescura."

Passados uns minutos, já estava sequinho e contente. Também pensei em agradecer ao ar a secura que me emprestou para efeitos evaporativos. Mas isso seria excessivo. Lembrei-me de climas quentes e húmidos (como o de Macau) onde se está sempre a transpirar em bica porque o ar está cheio de água e não quer saber da água que queremos escoar.

Passei a pensar no suor como produção inteligente de água para me refrescar. Para se evaporar é preciso calor e o calor que usa é precisamente aquele que temos a mais e que queremos eliminar.

Quando seca o suor vai-se o calor. E nós, deixando de ter calor, já não precisamos de suar. É lindo.

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