O charme medieval de Lübeck

A leitora Manuela Santos partilha a sua experiência na cidade alemã.

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Emoldurada pelo rio Trave, a norte da Alemanha e próximo da fronteira com a Dinamarca, a adorável Lübeck pode chamar a si o estatuto de cidade-ilha: perto do mar, no entanto resguardada da azáfama do seu porto marítimo, que fica um pouco mais distante.

Serenidade parece ter sido a opção desta cidade depois de um passado glorioso enquanto capital da famosa Liga Hanseática, uma aliança económica entre várias cidades do Norte europeu que controlava o comércio nos mares do Norte e Báltico, durante a Idade Média, ou de um passado de tragédia com a destruição da cidade nos finais da Segunda Guerra Mundial. Bombardeada pela RAF, ficou arrasada com os numerosos incêndios subsequentes, alimentados pela madeira de que eram constituídas, essencialmente, as construções de uma cidade que teve a sua origem no século XII.

Restaram as estruturas de tijolo e belas fachadas de muitos edifícios entretanto tão bem recuperados. Lübeck é, actualmente, uma cidade de grande interesse cultural. Com turismo quanto baste, pelo menos na primeira semana de Setembro, quando a visitei, apresenta-se tranquila, fácil de percorrer a pé pelo turista, sem necessidade de recorrer a qualquer transporte público. A vida dos residentes desenrola-se com a calma própria das cidades de média dimensão, em paralelo com um discreto acolhimento aos visitantes.

Lübeck possui um fabuloso património de arquitectura gótica de tijolo que lhe granjeou a eleição de Património da Humanidade pela UNESCO. De rua em rua, sempre presenteada com lindas fachadas de causar admiração, os pináculos verdes em contraste com a cor do tijolo das torres da Catedral e da formosa e imperdível Igreja de Santa Maria, vão-me servindo de guia neste itinerário de charme que a cidade oferece. Mas o pasmo não fica por aqui! A estranha arquitectura do edifício da câmara municipal, a Rathaus, mais uma vez me fez estar de cabeça levantada, ou o fantástico Heiligen Geist Hospital, um hospital medieval onde foi possível visitar apenas o bonito átrio, embora o edifício, por si só, seja mais do que suficiente para ser incluído na lista dos vários ex-líbris a guardar numa bela fotografia.

Neste deambular pelas ruas mais estreitas de Lübeck, onde ocorrem, por vezes, magníficas concentrações de edifícios em tijolo, é tão fácil imaginar o rebuliço mercantil do tempo da Liga Hanseática: os barris da cerveja artesanal dos monges beneditinos de Weihenstephan a caminho do porto de onde seguiriam para outros destinos; as mercadorias várias que entravam e saíam da cidade, tecidos de lã, as sedas vindas do Oriente, os cereais, o sal, tão bem representadas no Museu da Liga Hanseática; o movimento dos almocreves pelas admiráveis portas da cidade, a Holstentor e a Burgtor, de arquitectura muito interessante. Imaginamos, também, a Lübeck do século XIX como o cenário perfeito para os Buddenbrooks, personagens do romance com o mesmo nome de Thomas Mann, um dos filhos ilustres desta cidade charmosa e romântica digna de qualquer realização cinematográfica.

O esplendor mercantil de Lübeck esmoreceu com o tempo. Hoje, ela está voltada para um turismo cultural gerido com prudência e tem os famosos e deliciosos doces de maçapão a disputarem um lugar cimeiro no seu actual comércio.

Manuela Santos
http://viajarparaalimentarossentidos.blogspot.pt/

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