Pela primeira vez Cindy Sherman chega completa ao Reino Unido

Artista norte-americana vai expor na National Gallery de Londres no Verão do próximo ano.

Foto
Untitled Film Still #15, 1978, é uma das obras expostas Cortesia da Artista e da Metro Pictures, Nova Iorque

É um dos nomes mais celebrados da arte norte-americana dos últimos 40 anos, mas nunca teve uma retrospectiva no Reino Unido. No Verão do próximo ano, a National Gallery de Londres vai corrigir esta situação mostrando mais de 150 fotografias de Cindy Sherman, de meados dos anos 1970 até hoje, incluindo a série icónica Untitled Film Stills (1977-80), em que ela se faz representar como se integrasse o elenco de uma produção de série B ou se fosse uma actriz do film noir, revelando um incrível talento para a metamorfose que haveria de se transformar na sua imagem de marca.

Diz o museu londrino dedicado ao retrato no comunicado em que anuncia Cindy Sherman, a exposição, que o extenso conjunto de obras apresentado vai mostrar, precisamente, até que ponto a artista é capaz de manipular a sua aparência recorrendo a referências e materiais da cultura visual popular, do cinema à publicidade, passando pela moda. E isto tudo para explorar “a tensão que existe entre a fachada e a identidade”, entre o que se vê e o que se é.

Além de Untitled Film Stills, corpo de trabalhos que começou a desenvolver mal se mudou para Nova Iorque e que é composto por 70 fotografias a preto e branco em que a artista cria personagens e situações ficcionais inspiradas no cinema europeu e americano dos anos 1950 e 60, Cindy Sherman (27 de Junho-15 de Setembro de 2019) inclui séries como Cover Girl, feita quando ainda estudava, em 1976, e outras mais recentes como Clowns  e Society Portraits. Rear Screen Projections, History Portraits, Fairy Tales, Sex Pictures  e Centrefolds estão também representadas.

Na era das redes sociais e das selfies o trabalho de uma artista como Sherman torna-se ainda mais relevante, defende no referido comunicado Nicholas Cullinan, director da National Portrait Gallery, feliz por ver a exposição do próximo Verão combinar séries seminais com trabalhos nunca antes mostrados em público. Para o comissário Paul Moorhouse, autor de Cindy Sherman (editado pela Phaidon em 2014), “nenhum outro artista questiona tão aprofundadamente como ela as ilusões da cultura moderna”.

Segundo o diário britânico The Guardian, Moorhouse e Sherman têm trabalhado juntos na selecção das obras a apresentar, embora o comissário tenha recebido carta branca. Em Outubro vai visitar o estúdio da artista para escolher alguns dos adereços e outros materiais que usa para se transformar, objectos que serão depois mostrados em Londres para que a exposição possa cumprir um dos seus objectivos – abrir uma janela sobre o ambiente e o processo de trabalho de Sherman, uma criadora que continua a envolver-se em causa cívicas, sobretudo nas que dizem respeito às mulheres.

Nos últimos tempos, esta norte-americana de 64 anos tem explorado o tema do envelhecimento e já não tem receio de que se perceba que é ela que está ali, nos seus auto-retratos, por trás de toda aquela maquilhagem, mesmo que continue a afirmar, como fez ao Guardian em 2016, que prefere que as suas personagens ganhem vida própria: “Muitas vezes faço qualquer coisa e penso ‘oh, não, ela está demasiado parecida comigo’. E tenho tentado aprender a não ter medo de que isso aconteça. Já não estou a tentar apagar-me ao esconder-me por completo nas imagens como costumava fazer.”

Sugerir correcção
Comentar