Venha o taralhão

O chefe João Oliveira está a aproveitar peixes que já pescámos que doutra forma voltariam mortos para o mar. Está a lutar contra os nossos preconceitos, a nossa ignorância e o nosso comodismo.

Não conheço a cozinha do chefe João Oliveira mas já lhe posso dar os parabéns. Como contou Alexandra Prado Coelho aqui no PÚBLICO, João Oliveira está activamente a fazer campanha para comermos os potencialmente deliciosos peixes que pescamos... e deitamos fora. Leia-se também a reportagem da Alexandra chamada "Boga, tainha e champanhe", de 2015.

Em 2019, à semelhança do que já acontece na Noruega e na Islândia, os pescadores da União Europeia estarão obrigados a trazer todo o peixe que pescam para terra, onde os peixes indesejados serão transformados em farinhas e óleos.

Será proibido deitar peixe fora por ser pequeno ou por ser barato, para se poder pescar peixes maiores e mais caros. João Oliveira está a servir peixes de que nunca ouvi falar como o taralhão, o ferro-de-engomar, a cinta, a merma, para além de tainhas do alto, bogas e bonitos.

Está a aproveitar peixes que já pescámos que doutra forma voltariam mortos para o mar. Pensa cada peixe em termos culinários, procurando-lhes o segredo. Está a lutar contra os nossos preconceitos e, sobretudo, contra a nossa ignorância e o nosso comodismo.

Sente-se que até gostaria de se dedicar a alguns dos peixes que ainda não podem ser vendidos na lota. O esforço dele merece ser não só apoiado como promovido na esperança que outros chefes façam o mesmo trabalho.

Se queremos continuar a comer peixe selvagem a preços razoáveis temos de deixá-lo crescer e multiplicar-se. O mínimo que podemos fazer é comer — e agradecer — o peixe que já matámos.

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