Japão reforça apoio a menores após morte chocante de menina de cinco anos

Yua Funato morreu em Março, depois de ter pedido ajuda contra o abuso continuado dos pais, um caso que abalou o país.

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A morte de Yua Funato comoveu o Japão e levou o Governo de Tóquio a tomar medidas enérgicas para a protecção dos menores em risco Reuters/KYODO

O Governo japonês liderado por Shinzo Abe (conservador) decretou medidas urgentes para reforçar a rede de apoio a menores, na sequência de um caso de abuso infantil que abalou o Japão. 

Yua Funato, de cinco anos, morreu em Março, por complicações de saúde induzidas por uma série de abusos e de negligência e malnutrição. Quando morreu, pesava 12 quilos, peso habitual em crianças de dois anos. A morte dela "é de partir o coração", admitiu o primeiro-ministro japonês, que deu a cara por um plano que passa pela contratação de mais 60% de assistentes sociais nos próximos cinco anos e uma maior vigilância sobre crianças do pré-escolar.

Os pais de Yua Funato foram detidos em Junho e acusados de negligência, devendo responder judicialmente pela morte da filha, que implorou por ajuda, por escrito. Os pedidos foram ignorados, o que aumentou ainda mais o choque num país cioso de valores tradicionais como a defesa do bem-estar dos menores. Yua Funato tinha um caderno em casa, que usava para exercícios de escrita sob coacção do padrasto, que também lhe batia. Numa das páginas, deixou um pedido: "Mamã, vou portar-me melhor, muito melhor amanhã do que hoje, sem ser preciso que me digam. Desculpa-me, peço-te que me perdoes." Quando alguém viu o que tinha escrito, já era tarde de mais.

"O Governo vai trabalhar para garantir que a sociedade protege a vida das crianças", prometeu o principal porta-voz do executivo, Yoshihide Suga, citado pela Reuters, durante a conferência de imprensa desta sexta-feira, que decorreu em Tóquio, para anunciar o plano governamental.

Em concreto, o executivo quer contratar cerca de dois mil assistentes sociais, até 2022, que se juntarão aos actuais 3250 existentes no país. Três semanas antes de morrer, Yua Funato foi visitada por alguns destes profissionais, cuja entrada em casa da família foi recusada pela mãe. 

O porta-voz do Governo explicou que, na altura, os assistentes sociais não insistiram em ver a criança porque a família já não estava sob vigilância da Segurança Social. Queriam estabelecer uma relação amigável com a família e, por essa razão, acabaram por deixar a casa sem ver a menina.

Além da contratação de mais profissionais — uma lacuna que tem sido fortemente criticada no Japão, diz a Reuters — o executivo de Tóquio também muda as regras sobre visitas de assistentes sociais, que passam a estar autorizados a entrar em casa, num prazo de 48 horas após serem notificados de queixas de abusos ou negligência envolvendo menores. Se a entrada deles for rejeitada, a polícia passa a prestar auxílio. E as autarquias estão agora mandatadas a fazer um levantamento das situações de menores que possam estar em situação de risco. 

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