Esculturas do século XVII desaparecidas estão de regresso à Catedral de Cádis

As peças de arte sacra terão sido esculpidas em 1687 por Luisa Roldán, símbolo da arte barroca em Espanha.

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As obras de arte desapareceram da Catedral de Cádis, em Andaluzia José Rojas/WIKICOMMONS

As "quatro esculturas de 'la Roldana' desaparecidas da Catedral de Cádis" que o diário espanhol El País revelou há mais de uma semana voltaram a ser notícia na imprensa espanhola recentemente. Desta vez, porque foram encontradas e devolvidas à catedral por Jesús Romero Montalbán, que as teve em sua posse nos últimos 12 anos "sem saber". 

São quatro anjos que se acredita terem sido esculpidos pela artista Luisa Roldán ("la Roldana" como é conhecida popularmente), nascida em Sevilha em 1652. As obras de arte, segundo os especialistas, datam de 1687 e tinham desaparecido da catedral de Cádis, em Andaluzia, mas não se sabia quando. Foi então que Jesús Romero Montalbán, um empresário espanhol e apreciador de arte, viu as imagens das peças desaparecidas e se apercebeu que tinha em sua posse, há cerca de 12 anos, três desses quatro anjos em sua casa na região de Chiclana de la Frontera (Cádis).

Montalbán garante agora ao diário El País que "não sabia que [os anjos] eram de la Roldana nem que tinham vindo da catedral" (o mesmo que explicou à polícia na passada segunda-feira) e explicou como as figuras chegaram às suas mãos: em 2006, recebeu um telefonema de um artesão de San Fernando que lhe disse ter "uma série de peças desclassificadas" que viriam "de uma casa que andavam a limpar perto da catedral", explica. Percebeu que eram peças antigas, mas diz nunca ter imaginado que pertencessem a Luisa Roldán (1652-1706) - filha do também escultor Pedro Roldán -, uma das primeiras escultoras espanholas de que há registo e um dos principais símbolos da arte barroca de finais do século XVII e inícios do século XVIII.

Os anjos "estavam pintados de branco" e Montalbán pensou que eram de origem italiana, chegando até a ponderar guardá-los no sacrário da igreja da sua terra. Mas as esculturas acabaram por permanecer em sua casa até que, a 25 de Junho, o historiador José Miguel Sánchez Peña deu finalmente por falta das obras e revelou o desaparecimento à imprensa. Quando se apercebeu da situação em que estava envolvido, Montalbán contactou imediatamente o artesão que lhe tinha dado as peças (e que mantinha na sua oficina o quarto anjo) e avisou-o que teriam de as devolver imediatamente à catedral de Cádis, o que aconteceu passados três dias. Em risco de serem ambos acusados de crime contra o património histórico ou roubo, a investigação ficou a cargo da Polícia Nacional. Porém, uma vez que os padres que dirigiam a catedral na altura do desaparecimento das peças já morreram (e não se consegue averiguar se, de facto, as esculturas foram cedidas durante uma limpeza aos armazéns da catedral), o El País avança que o mais provável é que o caso "caia no nada".

Segundo as autoridades, as obras de arte sacra desaparecidas estavam catalogadas no Inventário Geral da Igreja Católica e no Catálogo do Património Histórico de Andaluzia e faziam parte de um memorial construído para a celebração religiosa da Quinta-Feira Santa que esteve em exibição na Catedral de Cádis até inícios do século XX. Foram também encontradas, durante a mesma investigação, mais três peças de escultura de outros artistas, nomeadamente a figura de um profeta de metro e meio de altura (obra dos escultores Pedro Laboira e Vicente Ruiseco) e alguns fragmentos de outros dois anjos, atribuídos ao escultor Domenico Giscardi de 1781.

De acordo com um relatório elaborado pelas autoridades locais responsáveis pelo património, em conjunto com o Museu de Cádis, todas as peças se encontram em "estado frágil de conservação" e "não foram submetidas a nenhum tipo de reparo ou manipulação posterior". Manuel Moreno, especialista em História da Arte que gere a pasta da Cultura, esclareceu segundo o diário La Voz de Cádiz que é necessário colaborar com a Diocese de Cádis e Ceuta na criação de um inventário completo e actual dos bens patrimoniais para que o sucedido não volte a acontecer.

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