Cartas ao director

Visitas a Angola

A recepção a Rui Rio pelo Sr. Presidente da República de Angola e por outras altas individualidades angolanas antes da visita do Primeiro Ministro, veio, talvez, indiciar um contencioso antigo entre Angola e o PS, configurando neste, figuras como Mário Soares e João Soares. Sendo o PSD o partido mais votado nas últimas legislativas, embora não formando Governo, Angola não quis dizer que "quem mas faz paga-as", mas que as relações entre os dois países devem ser mais do que meros protocolos políticos, tendo em conta que os laços que unem os povos de Angola e os de Portugal, são muito profundos, e as sequelas que eventualmente houve da colonização não deixaram traumas irreparáveis entre a população, mais, há uma afinidade permanente constatada pelas pessoas de ambos os países que convivem lá e cá. O relacionamento político deverá ter em conta que somos duas famílias próximas, embora, sem que uma interfira noutra, devem entreajudarem-se permanentemente.

Duarte dias da silva, Lisboa

Malfeitorias

Foi logo no longínquo ano lectivo de 1986/87, no meu primeiro ano de serviço como professor contratado nos então designados mini-concursos, que aprendi uma proveitosa lição enquanto aspirante a funcionário público. Fui colocado no dia 11 de Novembro de 1986 na Escola das Cavaquinhas (actual Escola José Afonso), no Seixal com um horário de 12 horas semanais. Assinei contrato com o Ministério da Educação com término a 30 de Agosto de 1987, data do final do ano escolar. O ministro da educação era João de Deus Pinheiro e o primeiro-ministro Aníbal Cavaco Silva. Também naquele tempo o dinheiro faltava para os pagamentos contratados, de tal modo que o governo decidiu que o ano escolar passaria a terminar a 30 de Julho. O objectivo parecia claro: o Estado pagaria menos um mês de ordenado aos professores que, como eu, não faziam parte dos quadros do ministério. Com um horário de 12 horas já não me recordo qual o ordenado que auferia mas posso afirmar que era uma coisa muito pouco significativa. Ainda assim, uma vez que assinara contrato até 30 de Agosto, não me passou pela cabeça que o Ministério se recusasse a pagar-me o último ordenado que me era devido mas foi o que aconteceu. Houve falatório, vozearia, mas, todos nos lembramos, a atitude cavaquista era inflexível e autoritária. Berrei um ordenado.

No ano seguinte fui colocado na Escola Preparatória de Amora no dia 12 de Outubro de1987. Chamaram-me à secretaria da escola para assinar o meu novo contrato de trabalho com término a 31 de Julho de 1988. Mas, surpresa das surpresas, foi-me posto à frente um outro contrato referente ao ano anterior com data de término corrigida para 31 de Julho de 1987. Fiquei perplexo e respondi à senhora da secretaria que me recusava a assinar o contrato corrigido. A resposta foi que, por ordem ministerial, caso não assinasse o dito contrato não assinava o novo e podia fazer as malas de regresso a casa. Desamparado, cumpri as indicações da zelosa funcionária e assim aprendi o valor de um contrato assinado com o estado português.

Diz o povo que “o que nasce torto tarde ou nunca se endireita” e eis que, 31 anos volvidos a mourejar nesta profissão, suportando uma vertiginosa sequência de 16 ministros, me vejo na eminência de novo passe de mágica. Desta vez querem fazer desaparecer nove anos e uns trocos do tempo que trabalhei para o tal ministério. O ministro é outro, o partido no poder ligeiramente diferente, mas confirma-se o valor que o estado português dá aos contratos que assina.

Rui Silvares, Cova da Piedade

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