No dicionário do Mundial, Suécia equivale a "equipa"

Sem Zlatan Ibrahimovic, o seleccionador sueco adoptou uma ideia de jogo assente no colectivo.

Foto
Depois da vitória contra a Suíça, jogadores suecos festejaram com os adeptos. LUSA/TOLGA BOZOGLU

Depois de ter marcado o golo que fez com que a Suécia avançasse para os quartos-de-final do Campeonato do Mundo, Emil Forsberg disse o que lhe ia na alma: “Honestamente, quase me apetece chorar de felicidade. Ganhámos de forma extraordinária.” “Extraordinária” é uma palavra que não só define a vitória frente à Suíça, como se estende a toda a campanha que a selecção nórdica está a fazer na Rússia. “Sabemos que somos uma boa equipa e que merecemos os nossos sucessos”, resumiu Janne Andersson, seleccionador da Suécia desde 2016.

Para chegarem à Arena Samara, onde hoje vão jogar contra Inglaterra, os nórdicos trilharam um caminho que não se adivinhava nada fácil. Pela frente estavam a campeã do Mundo Alemanha, o México e a Coreia do Sul. Depois de vencerem os coreanos e da derrota sofrida no último minuto aos pés dos germânicos, a Suécia impôs uma goleada categórica aos mexicanos. No final de contas, venceram o grupo F. “Primeiros no grupo? Pouco pensaram nisso”, disse o central e capitão Andreas Ganqvist depois do 3-0 frente ao México.

A Suécia não atingia os quartos-de-final desde o Mundial de 1994, nos Estados Unidos (ficou em terceiro). A sua melhor prestação nesta competição foi na edição que se realizou em casa, em 1958, quando ficou em segundo lugar, tendo perdido na final por 5-2, contra o Brasil de Pelé. O que é que a selecção de 1994 tinha em comum com a de 1958, e que está em falta na de 2018? Estrelas. Na Suécia, havia Nils Liedholm, por exemplo. Nos EUA, Henrik Larsson.

Zlatan Ibrahimovic é um nome incontornável da história do futebol sueco, mas não integrou a lista de convocados que viajou para a Rússia. Aliás, Zlatan não realizou um único minuto na fase de qualificação desde que renunciou à selecção, depois do Europeu de 2016. No caminho para a Rússia, a Suécia integrou o Grupo A, juntamente com a França e a Holanda, garantindo o segundo lugar, mas ainda sem o bilhete para a Rússia carimbado.

Seguiu-se o play-off contra outro gigante europeu, a Itália. “Tivemos o grupo de qualificação mais duro contra a Holanda e a França e fizemos alguns jogos muito bons. Se conseguirmos jogar a esse nível, conseguimos vencer qualquer equipa do mundo, incluindo a Itália”, perspectivou então Janne Andersson. A confiança do treinador transpôs-se para o campo: a Suécia venceu o primeiro jogo em casa pela margem mínima, e na segunda mão aguentou a pressão italiana e empatou a zero. “Temos muitos heróis esta noite”, vincou.

Mesmo com a prova dada de que a Suécia conseguia bater-se com os grandes sem a ajuda de Ibrahimovic, a sombra do jogador ainda se fazia sentir sob a forma das perguntas dos jornalistas. “Isto é incrível! Ele deixou de jogar pela Suécia há mais de um ano e meio e nós continuamos aqui a falar dele”, respondeu Andersson, admitindo que a equipa teve de se “adaptar e encontrar outro estilo” quando ficou órfã de Zlatan.

No negócio imobiliário, costuma dizer-se que o valor de uma propriedade depende de três coisas: “localização, localização e localização.” No novo estilo adoptado por Janne Andersson, pode dizer-se que o mote é: “equipa, equipa e equipa.” Ao escutar com atenção os discursos do seleccionador sueco, é mais frequente verificar um “nós” do que um “eu”. “O futebol é um jogo de equipa, e nós somos uma equipa e nunca nos devemos esquecer disso”, afirmou Andersson, que conseguiu incutir nos seus comandados um forte espírito colectivo. “Se procurarem ‘equipa’ no Google, vão encontrar uma fotografia nossa”, ilustrou o avançado John Guidetti, na preparação da maior competição de selecções.

Após uma vitória sofrida diante da Suíça, os adeptos suecos cantaram o nome do seu seleccionador. “Estou feliz por eles estarem a cantar o meu nome, mas talvez seja porque sou o símbolo desta equipa, que personifica a abordagem que eu quero”, fez notar Andersson.

Depois dos helvéticos, o obstáculo que se segue é a Inglaterra, mas Emil Forsberg não teme o adversário: “Não importa. Já tivemos oposição difícil. Podemos vencê-los também”. Granqvist também não perde o sono quando sabe que vai jogar com o conjunto inglês, que caracteriza como “muito bom”. “Eles mudaram o seu estilo de jogo. Antes, eram mais directos e jogavam bola longa. Agora, são mais habilidosos, e têm jogadores mais rápidos. Temos tido bons resultados contra eles, por isso não me importa”, atirou.

Sugerir correcção
Comentar