Cartas de prisão de Mandela e ensaios de Camille Paglia nas novidades literárias do mês

No centenário do nascimento do líder revolucionário anti-apartheid e presidente da África do Sul Nelson Mandela, a Porto Editora publica As cartas da prisão de Nelson Mandela, uma reunião das 255 cartas, muitas delas tornadas públicas no livro.

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Nelson Mandela Reuters/PAUL MCERLANE

Um livro que reúne mais de 250 cartas escritas por Nelson Mandela durante os anos em que esteve preso e uma compilação dos melhores ensaios da polémica feminista norte-americana Camille Paglia são algumas das novidades editoriais de Julho.

No centenário do nascimento do líder revolucionário anti-apartheid e presidente da África do Sul Nelson Mandela, a Porto Editora publica As cartas da prisão de Nelson Mandela, uma reunião das 255 cartas, muitas delas tornadas públicas no livro, organizadas cronologicamente e divididas pelas quatro instituições prisionais por onde passou ao longo de 28 anos.

São cartas institucionais, políticas e familiares, organizadas pela jornalista Sahm Venter, com o apoio da Fundação Mandela, e prefácio da neta do activista Zamaswazi Dlamini-Mandela.

A Quetzal publica Mulheres livres, homens livres, de Camille Paglia, considerada, desde os anos 1960, uma das vozes fundamentais do feminismo e das lutas das mulheres, mas também herdeira de uma tradição intelectual de livre pensamento, que a coloca do outro lado da barreira do feminismo actual, que classifica como "vitoriano", "burguês", "politicamente correcto", "puritano" e "estalinista".

Para esta professora universitária, ensaísta, crítica de arte e crítica social norte-americana, assiste-se nos dias de hoje à regressão a um estádio pré-feminista, onde uma excessiva protecção às mulheres as desenha como seres frágeis e incapazes de se oporem à violência, à discriminação e às adversidades, refere a editora, adiantando que este livro reúne os seus melhores ensaios sobre estes temas.

Ainda no universo feminino, a Quetzal vai lançar Uma história do desejo feminino, da historiadora inglesa Carol Dyhouse, no qual a autora se serve do cinema, da literatura e do romance popular para mostrar como a posição das mulheres na sociedade mudou e, com isso, mudou o mundo.

A mesma editora publica também Trânsito, da canadiana Rachel Cusk, o segundo livro de uma trilogia, que se iniciou com A contraluz, editado no ano passado pela Quetzal, e que foi eleito um dos dez melhores livros de 2015 pelo New York Times.

A D. Quixote reedita, mais de 30 anos depois da sua edição em Portugal, O Samurai, de Shusaku Endo, considerado um dos maiores nomes da literatura japonesa do século XX e de quem a mesma editora publicou O silêncio, adaptado ao cinema em 2016 por Martin Scorsese.

Na Alfaguara, um dos destaques vai para a publicação inédita em Portugal da escritora, crítica e ensaísta norte-americana Carmen Maria Machado, com um livro de contos intitulado O corpo dela e outras partes, que foi finalista do National Book Award 2017 para ficção.

Trata-se de um livro que "desafia fronteiras", na medida em que questiona o género como identidade, e combina realidade e cultura popular com mito, folclore e fábula, mapeando a vida das mulheres, na sua força e vulnerabilidade, nos seus apetites e compulsões, nas suas transgressões e agressões, explica a editora.

A Alfaguara publica ainda O desaparecimento de Stephanie Mailer, um novo thriller do escritor suíço Joël Dicker, depois do sucesso alcançado com A verdade sobre o caso Harry Quebert, publicado em Portugal pela mesma editora em 2013.

Na Elsinore vai sair Mikhail e Margarita, da escritora norte-americana Julie Lekstrom Himes, com um "argumento original" que presta tributo ao clássico da literatura russa O Mestre e Margarita, de Mikhail Bulgakov, recriando o ambiente de suspeita, opressão e censura artística na Rússia estalinista dos anos 1930.

A mesma editora publica República luminosa, do madrileno Andrés Barba, sobre a invasão de uma cidade por um violento grupo de crianças, um livro premiado, com um argumento que remete para O Deus das Moscas, de William Golding.

A Tinta-da-China lançou, após décadas sem ser publicado, a Obra Perfeitamente Incompleta, de José Sesinando, o outro nome de José Palla e Carmo (1923-1995), figura maior do humor literário português do século XX.

A mesma editora publica mais um livro do escritor brasileiro Nelson Rodrigues— de quem já publicou O homem fatal, A vida como ela é...A menina sem estrela e O casamento -, desta vez um conjunto de crónicas sobre futebol, intitulado Brasil em campo.

A Antígona prepara-se para lançar neste mês dois livros de ensaios: A prática da natureza selvagem, de Gary Snyder, e 24/7 — O capitalismo tardio e os fins do sono, de Jonathan Crary.

O primeiro é um conjunto de nove ensaios sobre o Homem e a natureza, do poeta vencedor do Prémio Pulitzer e imortalizado em Vagabundos do Dharma, de Jack Kerouac, publicado originalmente em 1990 e editado agora pela primeira vez em Portugal.

24/7 — O capitalismo tardio e os fins do sono é um ensaio que reflecte sobre aquele que "parece ser o leitmotiv da actualidade" — consumir e trabalhar continuamente, 24 horas por dia e 7 dias por semana — e as consequências desse estado de eterna vigília, recorrendo a Gilles Deleuze e Hanna Arendt.

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