Rodrigo Leão: “Sempre existiu, na música que tento fazer, alguma coisa de Portugal”

Rodrigo Leão reedita a banda sonora de Portugal, um Retrato Social em CD duplo, com um disco de regravações de canções suas cantadas em português: Os Portugueses.

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Rodrigo Leão AUGUSTO BRÁZIO

Há dez anos, Rodrigo Leão fez a banda sonora da série Portugal, um Retrato Social, de António Barreto e Joana Pontes, série que a RTP exibiu e foi depois lançada em DVD. A banda sonora deu, nesse mesmo ano, lugar a um disco, que agora ressurge nas lojas mas num formato bem diferente: um CD duplo cuja “cara” é, não o disco original, que aparece como CD2, mas Os Portugueses, gravado agora como extensão do universo abordado na série e no primeiro disco. Rodrigo Leão explica ao PÚBLICO o conceito:

“Há dez anos, havia um tema que se chamava Os portugueses, o último da banda sonora que encerrava o disco. E eu já não sabia se chamámos Os portugueses à pequena tour que fizemos à volta desse documentário, uns dez ou quinze concertos. Este ano, em que resolvemos fazer várias iniciativas, entre elas reeditar essa banda sonora, achámos que não fazia sentido reeditá-la sozinha. Então pensámos acrescentar-lhe um CD extra com as canções que até hoje eu fiz em português, que não são muitas.” Ao lote, que reunia cinco canções compostas e gravadas por Rodrigo Leão nos seus discos a solo (Vida tão estranha, Melancolia, A corda, Rosa e Segredos, vieram depois juntar-se um tema dos Sétima Legião (Mil maneiras de amar) e dois dos Madredeus (O pastor e Guitarra). Isto além de um tema original, Restos da Vida. Mas mesmo os temas antigos foram todos regravados, com as vozes de Ana Vieira (4), Camané (3) e Selma Uamusse (3).

“Foi um desafio, de certa maneira, mas tudo muito intuitivamente. Fomos pensando nas coisas. A ideia de fazer uma regravação d’O pastor, por exemplo, foi muito recente, apesar de no ano passado já termos feito nalguns concertos, em festivais ao livre, uma versão d’O pastor. Mas a ideia de juntar temas dos Madredeus e dos Sétima Legião pareceu-nos que fazia sentido nos 25 anos do Ave Mundi Luminar [o primeiro disco de Rodrigo Leão a solo] que agora se comemoram.” As vozes convidadas fazem também parte dessa “memória”, devido a colaborações anteriores. “O Camané, trabalhei com ele há três anos atrás, naquele projecto na Assembleia da República [O Espírito de um País, espectáculo que comemorou os 40 anos do 25 de Abril, em 2015]. Depois acabou por participar também no disco com a Orquestra e o Coro Gulbenkian [O Retiro, 2015] e agora, para este disco, o Restos da Vida foi feito a pensar na voz dele.” Selma Uamusse, cantora moçambicana que tem uma presença fortíssima em palco, também já cantou em gravações e concertos e Rodrigo Leão, tal como Ana Vieira. “No fundo, foi juntar neste disco os cantores que trabalharam comigo ao longo destes quatro ou cinco anos.”

Novo disco em 2019

Apesar de trabalhar num universo musical mais lato, Rodrigo Leão diz que a ideia do país está lá. “Sempre existiu, nas músicas que tento fazer, alguma coisa de Portugal. Mas muito diferente dos projectos Madredeus e Sétima Legião. Aqui, tivemos esta oportunidade de regravar estes temas todos com um técnico alemão muito bom, Tobias Lehmann. Acho que é um dos discos com melhor som que eu já gravei. E ainda bem.”

Os Portugueses está, também, a correr palcos. “Já fizemos seis ou sete concertos com este projecto. Têm na primeira parte as imagens do documentário, com a música da banda sonora, a na segunda parte as canções em português. Uns concertos têm a Ana Vieira, outros a Selma Uamusse, noutros as duas.” Além de Portugal, há outros países na agenda: Áustria, França, Espanha, para já. Tudo isto levou Rodrigo Leão a adiar para 2019 o próximo disco. “Tenho vindo a trabalhar em composições novas. Tencionava gravar ainda este ano, mas penso que só conseguirei fazê-lo no início do ano que vem. É um disco talvez mais experimental. Instrumental, com um bocadinho de electrónica.”

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