Felizmente

Quando empatámos com a Espanha andávamos todos contentes. Mas quando ganhámos entrámos em depressão.

Anda toda a gente chateada com a selecção portuguesa porque não jogou nada contra Marrocos. Quando digo que Portugal ganhou os três pontos de que precisava respondem-me que está bem "mas assim não".

Não percebo. Quando empatámos com a Espanha (ganhando um mísero ponto) andávamos todos contentes. Mas quando ganhámos entrámos em depressão. Até o marcador de todos os nossos golos leva na cabeça: foi só aquele logo no princípio, depois só fez porcaria. Porcaria é não ter marcado mais dois golos conforme ele próprio nos habituou.

Há quem diga que é snobice: empatar com a grande Espanha é preferível a ganhar só por um a zero à pequena Marrocos. Para ser equivalente Portugal teria de ganhar pelo menos cinco a um.

Só em Portugal é que se faz esta preparação colectiva para o fracasso. Assim, quando Portugal perder, todos poderemos dizer, com satisfação pelos sovacos, "Eu não disse? Eu não disse? A jogar assim, de que é que estavam à espera?".

A única maneira que a selecção tem de escapar à macambuzice da nação é ganhando o Mundial. E mesmo assim não faltariam pesarosos conselheiros Acácios a dizer que podem ser campeões do mundo – mas não mereceram.

Ainda bem que as opiniões dos portugueses não interferem nas regras dos torneios de futebol. Felizmente aí a selecção encontra consolação: lá continua a ganhar quem ganhou e o prémio são sempre três pontos. Lá não podem ganhar as duas equipas. Só uma. Lá não se pode tirar um ponto ou dois porque o povo achou que a exibição foi fraca. Felizmente.

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