Coesão nacional: estamos a ser coerentes?

As notas de euro ardem mais depressa que as folhas do eucalipto.

Nas minhas funções como pró-­reitor da Universidade do Porto (UP), tive o privilégio de percorrer uma boa parte do país, apresentando aos diversos presidentes de câmara o projeto de abertura da universidade ao país real e a nossa contribuição para fazer regressar às terras de origem os naturais que estudam na UP.

Percebi, in loco, o drama dos incêndios e o desespero dos autarcas perante a evidência do agravamento da migração dos locais para outras paragens, bem como a falta de apoio às famílias detentoras das segundas habitações (importantes motores da economia destes concelhos).

Aquilo que era um drama anunciado passou a ser uma realidade presente e fez acender, de repente, a discussão sobre a necessidade de dar atenção à desertificação demográfica do nosso “interior”.

Autarcas, Governo, deputados e muitas figuras mediáticas que costumam ir a reboque dos acontecimentos debitaram as suas opiniões, fizeram, e continuam a fazer, visitas constantes acompanhadas do habitual circo, mas um ano volvido e algumas casas reconstruidas, continuam a avolumar-se as dúvidas das vítimas e a não se perceber quais são as medidas concretas que vão ser aplicadas para contrariar as evidências.

Até começam a surgir dúvidas quanto ao destino das doações. Vem isto a propósito do tema da moda: coesão!

O senhor Presidente da República, e bem, tem apelado à coesão territorial. Pelo menos conseguiu que o significado da palavra fosse conhecido e congregou em si a confiança das autarquias e das populações. Distribui esperança e amizade, mas tem que perceber que não há coesão sem que haja exemplos concretos dela. Se o senhor Presidente rema para um lado, o Governo rema para o outro.

Veja-­se o caso do encerramento das dependências da CGD, de quem depende o bem-estar dos idosos, carentes de tudo. Veja-­se o encerramento das extensões de saúde e dos tribunais. Perceba-­se o impacto das portagens na competitividade das PME, avalie-­se a falta de apoio aos jovens que, sendo naturais da região, não regressam após terminarem os seus cursos.

Não é com medidas demagógicas como a anunciada diminuição de vagas em algumas universidades do litoral. Não é com comissões ou movimentos de cidadãos que aparecem a defender a descentralização (sempre os mesmos!).

Não é com anúncios como a deslocação do Infarmed para o Porto (vai ser preciso saber a quem verdadeiramente interessa...) e não é com o desinteresse em rastrear o potencial das PME destas regiões, incapazes de se desenvolver por falta de quadros qualificados, que se conseguem resultados. Antes de tudo, vai ser necessário encarar estes factos e tomar medidas para os combater. Vai ser necessário acabar com as medidas avulsas e demagógicas eliminando todos os parasitas que se alinham para tirar proveito da desgraça dos outros e assumir uma politica séria que passa pelo diagnóstico da realidade, pois não é com “camiões de dinheiro” que se apagam os fogos.

As notas de euro ardem mais depressa que as folhas do eucalipto! Senhor Presidente da República: tome atenção a quem se quer aproveitar da sua generosidade. Exija-­lhes provas!

O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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