Novos contentores do lixo são “monos” na paisagem urbana e barreiras à circulação

Em vez dos contentores enterrados, como tem vindo a ser prática das câmaras nas zonas recuperadas, a Algar espalhou depósitos para os resíduos à superfície nos passeios das artérias e zonas históricas

Não são apenas os automóveis mal estacionados a obstruir os passeios da cidade de Faro. Os novos contentores do lixo, - colocados pela Algar, empresa privada responsável pela recolha e tratamento dos resíduos sólidos na região -  passaram também a ser mais uma barreira à circulação pedonal. Os ecopontos escolhidos, diz o munícipio, “desrespeitam a mobilidade” e comprometem o património arquitectónico e paisagístico. Em resposta às constantes criticas das câmaras ao serviço que é prestado, o accionista privado respondeu com a oferta de um lugar de administrador executivo, que vai ser ocupado na próxima semana.

Do ponto de vista estético, diz a autarquia, os contentores não passam de uns “monos” posicionados à superfície, em rota de colisão com a mobilidade e o plano de melhoria do ambiente urbano . Desde há cerca de uma semana o assunto tem vindo a gerar criticas e protestos,  mas os depósitos ainda não foram removidos- e parece que vieram para ficar. Mas, por outro lado, não faltam queixas - pelos menos  durante Julho e Agosto-  à falta de contentores e à  forma “incipiente e desastrosa” (ver Público 23/3/2018) como é feita a recolha e o tratamento dos resíduos sólidos em toda a região.

A administração da Algar, questionada pelo PÚBLICO, informou que está a “reforçar a rede de ecopontos do Algarve”, tendo adquirido 781 ecopontos, o que representa um investimento de 1 milhão e 415 mil euros. Quanto às criticas que lhe são dirigidas pela autarquia farense, protestando contra a  “completa inadequação dos equipamentos [ecopontos] à circunstância concreta de cada bairro e rua”, a Algar rejeita  responsabilidades: “A identificação dos locais para a instalação dos ecopontos na cidade de Faro, foi previamente tratada com a Empresa Municipal Fagar, que tem a responsabilidade pela gestão dos resíduos no concelho”.

A Algar assume que “está disponível para rever as localizações dos actuais ecopontos”, desde que esteja garantido o acesso da população em locais de maior produção de resíduos. A câmara reafirma as criticas, lamentando o facto de  “ao longo de todo este processo, não ter havido qualquer articulação com os serviços municipais. O que é incompreensível e revela um completo desinteresse pela gestão municipal”, queixa-se.

Os modelos do equipamento utilizado, enfatiza a câmara, “não passam de enormes depósitos de superfície e design ultrapassado, que enfeiam a cidade e deslustram todo o trabalho que tem vindo a ser feito na recuperação urbanística”. Os “monos, sublinha, “contrastam radicalmente com a filosofia de contentorização subterrânea adoptada pela Fagar e pelo município desde há quatro anos”.

As situações mais evidentes encontram-se na Av. 5 de Outubro, bairro da Penha, cruzamento da praceta Lyster Franco com  a rua Ventura Coelho,  rua Libânio Martins e as traseiras da igreja de São Pedro. A câmara diz que “oficiou” a Algar do  no passado dia 25 de Maio, dando conta do seu descontentamento, mas a empresa nega tal comunicação. “Apenas teve conhecimento da posição do Município, acerca do assunto, através das plataformas das redes sociais”.

O Plano de Investimentos da Algar para o triénio 2019/2021 contempla uma verba superior a 32,5 milhões de euros em novos projectos, “com especial foco na actividade selectiva e no reforço de equipamentos”. Os autarcas, no âmbito da Comunidade Intermunicipal do Algarve- Amal, tem vindo a protestar contra a empresa, sobretudo desde que foi privatizada.

O accionista maioritário (grupo EGF) decidiu conceder às câmaras (que têm 44% do capital) um lugar de administrador executivo.  Quem está indicado é Nuno Amorim,  que se demitiu de  vice-presidente da câmara de Lagoa no passado dia 2 de Abril. A ratificação do nome do ex-autarca  está marcada para a  próxima segunda-feira, durante a  reunião da assembleia-geral da empresa.

O funcionamento do aterro sanitário do Sotavento algarvio, na serra do Caldeirão, também deverá ser objecto de análise da parte dos autarcas. Esta infraestrutura, em Abril, lançou os lixiviados( líquido com carga poluente proveniente da biodegradação dos resíduos depositados), directamente na ribeira do Vascão. Não foi a primeira nem segunda vez que sucedeu uma situação deste género, resultante do mau funcionamento da Estação de Tratamento das Águas Residuais (ETAR).

Para minimizar os impactos negativos na linha de água, a empresa passou a fazer o transporte dos lixiviados em camiões-cisterna para uma ETAR na zona litoral, e montou um equipamento alugado destinado a tratar os líquidos. A posição da câmara de Faro é clara: “A Algar é uma empresa bem remunerada [pelas câmaras, a quem presta o serviço]  para assegurar o tratamento e valorização de resíduos, da forma ambientalmente mais correcta e sustentável. “Manifestamente, não é isso que está a acontecer” . 

Sugerir correcção
Ler 1 comentários