Comissão para a Transparência só termina trabalhos depois do Verão

PSD não deverá aceitar regulação do lobbying e apenas deve dar consenso ao registo de agenda dos políticos e altos dirigentes.

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Maria Manuel Leitão Marques está a preparar a checklist do Governo Nuno Ferreira Santos

A Comissão Eventual para a Transparência deverá prolongar os seus trabalhos na próxima sessão legislativa, soube o PÚBLICO. PS e PSD parecem estar de acordo na necessidade de que a consensualização dos diplomas sobre regulação do exercício de altos cargos públicos e políticos seja feita de forma ponderada e sem precipitações. Esse objectivo poderá fazer prolongar os trabalhos para depois do Verão. Tanto mais que a sua aplicabilidade só será possível na próxima legislatura. Isso permitirá também que o PS venha a apresentar novas propostas anunciadas pelo líder parlamentar do PS, Carlos César, no 22º Congresso do partido.

Na reunião de terça-feira, continuaram a ser discutidas as propostas de alteração do regime de declarações que têm que ser entregues no Tribunal Constitucional e na Assembleia da República. O objectivo é fundir o conteúdo das três declarações que hoje são obrigatória numa só declaração a ser entregue no Tribunal Constitucional, cujo conteúdo será depois parcialmente partilhado com a Comissão de Ética e disponibilizado no site da Assembleia da República.

Terça-feira, o PS defendeu que seja criado ao nível das câmaras municipais com menos de dez mil habitantes organismos locais de transparência para contemplar o registo de interesses dos eleitos e gestores públicos. Na reunião em que o PCP não esteve presente, a proposta mereceu uma primeira abordagem, mas não o entusiasmo dos outros partidos.

A questão é que estava já praticamente consensualizada a ideia de que a fusão das declarações, com o objectivo de tornar o sistema uniformizado e permitindo uma mais eficaz fiscalização, seria aplicada num universo que excluía os municípios com menos de 10 mil habitantes e os eleitos sem funções executivas. O universo incluiria assim membros do Governo, deputados, gestores de empresas, fundações e institutos públicos, altos quadros da administração do Estado, representantes da República nas Regiões Autónomas, presidentes de câmaras, vereadores das maiorias e da oposição com funções executivas, presidentes de junta e vogais das juntas.

Na Comissão Eventual para a Transparência, ainda falta serem analisadas e consensualizadas as propostas sobre enriquecimento não declarado e lobbying. Em relação a esta última questão, existem duas propostas do PS, uma que pretende aumentar a transparência desta actividade através do registo da agenda pública dos ocupantes de cargos públicos e políticos, à semelhança do que acontece nas instituições da União Europeia. A outra para regulamentar a actividade do lobbying. Neste domínio e de acordo com a informação recolhida pelo PÚBLICO, o PSD apenas deve dar consenso à criação do registo da agenda pública dos ocupantes de cargos públicos e políticos.

Dados para checklist

A checklist que está a ser preparada pelo gabinete da ministra da Presidência e da Reforma Administrativa, Maria Manuel Leitão Marques inclui as indicações precisas que têm de constar das declarações que têm de ser entregues pelos membros do Governo no Tribunal Constitucional e da Assembleia da República, assim como os momentos e os prazos de entrega. Estas declarações têm de ser entregues não só por membros do Governo, mas também por deputados, gestores de empresas públicas e de institutos públicos, de empresas municipais, presidentes de câmara e vereadores.

No Tribunal Constitucional, os membros do Governo têm de entregar duas declarações, a de rendimentos, do seu património e de cargos sociais bem como uma outra sobre a inexistência de incompatibilidades ou impedimentos. Ambas têm de ser entregues nos 60 dias após o início de funções governativas. Devem também corrigi-las sempre que haja alterações, tal como entregá-las no final de funções.

No caso da declaração de inexistência de incompatibilidades ou impedimentos, a lei estípula que sejam enumerados todos os cargos, funções e actividades profissionais exercidos pelo respectivo governante, assim como quaisquer participações iniciais detidas pelo mesmo.

Já na Assembleia da República tem de ser entregue o registo de interesses por membros do Governo e deputados. Embora não esteja legalmente previsto prazo para esta entrega, a interpretação do gabinete da ministra da Presidência é a de que a entrega deve ser feita no prazo de 60 dias que a legislação estabelece para as declarações a entregar no Tribunal Constitucional.
O membro do governo tem de inscrever em livro próprio todas as actividades em que está envolvido que possam suscitar incompatibilidades ou impedimentos, assim como tudo aqui em que está envolvido e que possa originar ganhos financeiros ou conflitos de interesses.
No registo de interesses, a lei estipula que sejam declaradas as actividades públicas ou privadas, incluindo actividades comerciais ou empresariais e se os membros do Governo exerceram profissão liberal. Tem de ficar também registado se desempenham cargos sociais, mesmo que seja graciosamente. Igualmente têm de ser declarado os apoios ou benefícios financeiros ou materiais recebidos no exercício dessas actividades, incluindo de entidades estrangeiras.
Além disso, os governantes têm de declarar no registo de interesses todas a entidades a quem prestem serviços remunerados de qualquer natureza. E ainda as sociedades em cujo capital participam os próprios, o cônjuge ou os filhos. Estas declarações ficam consultáveis através do link: https://www.parlamento.pt/RegistoInteresses/Paginas/MembrosGoverno.aspx.
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