Quem diria?

O sentido de humor e o amor pela clareza e honestidade de St Aubyn passam bem para o filme, atingindo uma concentração Wildeana. É uma excepção sensacional.

Quando os livros são bons os filmes são maus: há excepções mas esta é a regra. Os cinco livros de Edward St Aubyn da pentalogia Patrick Melrose são bons e estão muito bem escritos. Transformá-los em cinco episódios para televisão parece uma ideia horrível. Se o melhor dos livros é a maneira como estão escritos então lê-los não só é preferível a vê-los — é a única maneira de proceder.

Costuma estar em vantagem quem não leu os livros. Aceita que os filmes só podem ter uma pequena parte, vê-os e, caso goste e queira mais, pega nos livros e lê-os.

Qual não foi então o meu espanto quando vi o primeiro episódio de Patrick Melrose, escrito por David Nicholls e realizado por Edward Berger, e dei comigo a conceder que a adaptação não é apenas fiel: é espectacular.

Benedict Cumberbatch é um grande actor e Patrick Melrose é um grande papel. Mas Nicholls e Cumberbatch vão mais longe: conhecem tão bem os livros, os personagens e, sobretudo, o estilo de St Aubyn, que conseguem recriá-los com facilidade.

O vício burguês das drogas nunca foi tão bem retratado em televisão. Nos livros o autor faz a mesma impiedosa edição, mostrando como se encadeiam as várias partes do processo (angústia/ histeria/ satisfação/ euforia/ paz/ angústia) para assegurar uma repetição infinita de consumos e comportamentos. O filme mostra-os. Não precisa de explicá-los.

O sentido de humor e o amor pela clareza e honestidade de St Aubyn passam bem para o filme, atingindo uma concentração Wildeana.

É uma excepção sensacional.

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