Isaltino admite que linha de Cascais venha a ser para eléctricos

Autarca de Oeiras atribui a ideia aos presidentes de Lisboa e Cascais e diz que ainda não tem posição definitiva. Em entrevista, avisa que a Área Metropolitana de Lisboa tem "de se focar" em resolver os problemas dos transportes. E garante: “Eu não desisti de SATU nenhum”.

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Isaltino Morais regressou recentemente à câmara que já liderou por 25 anos e quer pôr a mobildiade na agenda Miguel Manso

O presidente da Câmara Municipal de Oeiras admite que os comboios da linha de Cascais possam vir a ser substituídos por eléctricos. “É uma solução. A situação actual é que não é boa”, afirma Isaltino Morais, que espera por um aprofundamento do tema para tomar uma posição mais definitiva. “Ainda não há estudos sobre isso, mas admito que possa ser uma solução.” Ainda assim, acrescenta: “Não tenho dúvidas de que um eléctrico rápido seria mais barato e satisfazia melhor as pessoas.”

O autarca diz, em entrevista ao PÚBLICO, que “quer o presidente da câmara de Lisboa quer o presidente da câmara de Cascais já deram várias sugestões” sobre o futuro da linha ferroviária de Cascais e que “uma das ideias que têm lançado é a possibilidade de se fazer uma linha de eléctrico rápido” no local por onde hoje circulam os comboios. Para Isaltino Morais, “mais tarde ou mais cedo alguma coisa terá de se fazer”, porque “a linha de Cascais não satisfaz”.

Por um lado, diz, “há poucos comboios a parar nas estações todas”. Por outro, “os comboios não têm qualquer conforto”. Isso ajuda a explicar, na visão de Isaltino, que a linha tenha perdido milhões de passageiros nos últimos anos.

Mas o autarca argumenta que, sobretudo, “há um desfasamento entre o que foi a evolução do tecido empresarial e a resposta das empresas de transportes” rodoviários, o que inevitavelmente também prejudicou a linha ferroviária. “Dizem assim ‘ah, faltam estacionamentos junto às estações da CP’. Estamos a brincar! Caxias, Paço de Arcos, Oeiras… Vamos lá fazer estacionamento para que as pessoas venham de carro até ali e apanhem o comboio? Talvez o que faça sentido é que haja bom transporte de autocarros que levem as pessoas para as estações de caminhos-de-ferro.”

Actualmente, diz o presidente da câmara, “os transportes tal e qual estão, com os circuitos que estão definidos, não respondem às necessidades do concelho”, onde existem vários parques empresariais que diariamente recebem milhares de trabalhadores, provenientes de Oeiras e dos concelhos vizinhos. A atribuição das concessões de transporte rodoviário com base em novos cadernos de encargos, a acontecer em 2019, pode resolver parte do problema. Mas Isaltino Morais defende que tem de haver uma visão de conjunto para toda a região de Lisboa, que sofre com “a diminuição das suas margens competitivas quando comparada com qualquer outra capital europeia onde houve grandes investimentos nos transportes.”

“O que tem acontecido é cada município por si”, mas isso tem de acabar, afirma. Ao mesmo tempo que sublinha que hoje “há uma sensibilidade diferente na Área Metropolitana de Lisboa (AML) para esta matéria”, Isaltino avisa também que espera ver essa sensibilidade ganhar forma palpável. “A pedra de toque será o momento em que a AML tenha de decidir quais são as prioridades na utilização dos fundos comunitários no próximo quadro de apoio. Isso dir-nos-á se a AML está interessada em resolver o problema dos transportes em Lisboa ou não. Julgo que era importante que a área metropolitana fosse capaz de se focar, de dizer ‘muito bem, no próximo quadro comunitário a prioridade chama-se transportes’”, diz o autarca.

Antecipando as críticas que habitualmente acompanham a transferência de dinheiro europeu para a região de Lisboa, Isaltino Morais diz que esta zona “tem de disputar o acolhimento das grandes empresas mundiais” com cidades como Barcelona, Madrid, Paris ou Berlim. “Se pensarmos do ponto de vista da importância da coesão social e de uma justiça distributiva que tenha em conta as necessidades de populações mais frágeis, investir na AML é fundamental”, defende. “Essas grandes empresas mundiais não vão para Castelo Branco, nem vão para Barrancos, nem para Bragança, porque querem estar onde está a massa crítica, onde há outra tecnologia, onde há recursos humanos devidamente formados.”

Para Isaltino, mais útil seria fazer um pacto fiscal que diminuísse o IRC para as empresas do interior. Mas como nem para isso há consenso político, “não adianta virem com lágrimas de crocodilo a propósito dos incêndios e da desertificação.”

“Eu não desisti de SATU nenhum”

O presidente da câmara de Oeiras, que regressou em Outubro ao cargo que já ocupou por 25 anos, tem uma mão-cheia de projectos de mobilidade e transportes para o concelho. Diz, por exemplo, que “está a ser estudada, com a câmara de Lisboa e a Carris, a hipótese de construção de uma linha de eléctrico que do Estádio Nacional ligue a Linda-a-Velha e daí a Miraflores e Algés”.

Afirma igualmente que está previsto um investimento superior a 50 milhões de euros em três estradas que vão percorrer o município quase de uma ponta à outra para funcionarem como alternativas à A5. “Em termos de investimento municipal, é talvez o maior que o município vai fazer nos últimos 20 anos. Mas aí está: mais uma vez estamos a facilitar o transporte automóvel”, admite. “Se vamos fazer estas vias facilitadoras do transporte individual, também vamos fazer o SATU ou um derivado do SATU”, garante.

O SATU, ou Sistema Automático de Transporte Urbano, é um comboio não tripulado que funcionou entre Paço de Arcos e o Oeiras Parque durante uns anos até a empresa ser extinta por dar prejuízo. Isaltino Morais não abdica do projecto, que deveria ligar Paço de Arcos ao Cacém. “Eu não desisti de SATU nenhum. Estamos a estudar a hipótese de o repor e, caso o grupo de trabalho que estamos a constituir diga que não é possível repor exactamente aquela tecnologia, vamos estudar a hipótese de uma outra, que pode ser um eléctrico rápido”, explica. “Até ao fim do ano teremos já uma ideia do que é que vamos fazer.”

Entre a crítica ao Governo de Passos Coelho por ter provocado a extinção do SATU e o elogio a Sócrates (“o único Governo que entendeu o SATU”), Isaltino garante que a câmara está pronta a avançar com o dinheiro para fazer a ligação entre o Oeiras Parque e o centro empresarial Tagus Park. “A nossa certeza é tanta que nós estamos dispostos a fazer investimento municipal até ao Tagus Park e estamos convencidos, não tenho dúvidas nenhumas, que depois vão querer fazê-lo do Tagus Park ao Cacém. Mas nessa altura o Estado vai ter de pagar a Oeiras aquilo que não pagou.”

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