Fidel, a tua ilha vai afundar?

Em 1994, o repórter do PÚBLICO Adriano Miranda passou três meses em Cuba. Em 2018, regressou à ilha para acompanhar a transição de poder que pôs fim à era dos Castro. Eis uma amostra do confronto desses dois momentos separados por 24 anos.

Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público
Fotogaleria
Fotogaleria
Adriano Miranda/Público

A noite chegou. O burburinho das buzinas não abrandava. O trânsito continuava frenético. Nos passeios largos de uma qualquer avenida, casais com filhos sentavam-se junto das árvores. As copas faziam de telhado e os ramos de alicerces. Sacos de plástico faziam de móveis onde se guardava o pouco que havia. Sorriam para mim. Viviam ali. No passeio, debaixo de uma qualquer árvore. Estava em Bombaim. Na Índia, uma das maiores democracias do mundo. E viajar para fotografar nunca foi uma tarefa fácil. A miséria, além de cruel é hipocritamente fotogénica. É muito fácil resvalar. E ser um fotógrafo de merda.

Índia. Uma das duas viagens que me marcaram e transformaram. Um murro no estômago. Os ricos, muito ricos, e os outros, os miseráveis. A humilhação. Milhões de pobres sem qualquer direito, por mais elementar que fosse. Numa das maiores democracias do mundo.

Cuba. A outra viagem que me marcou e transformou. Um murro no coração. A primeira vez que aterrei em Havana foi em 1994. Vivia-se o auge do “período especial”. Ângela, com palavras calmas, explicava-me que numa semana as prateleiras ficavam vazias. As lojas fecharam. Com o fim da União Soviética e a queda do Muro de Berlim, as transacções comerciais acabaram. Com o bloqueio dos Estados Unidos a ajudar, Cuba ficou moribunda. Quis perceber que país era aquele. Que gente era aquela. Cuba para mim nunca foi um destino turístico. Foi um destino de reflexão. Vivi em casa de cubanos. Percorri a ilha. Trabalhei no campo. Senti na pele, porque quis deixar de ser português. Quis adoptar outra nacionalidade. E aprendi tanto, meu Deus!

Na ilha da solidariedade os homens e as mulheres eram de outra fibra. Unidos, venciam as dificuldades. Todos tinham o que comer. Todos tinham escola. Todos tinham médico. Quase tudo o resto faltava. Menos a dignidade. A verticalidade.

Quando em Março de 1995 o avião sobrevoou Havana, disse adeus à ilha da solidariedade. Lá ficaram amigos. Uma vida baseada no colectivo para se ultrapassarem os tempos difíceis. Lá deixei alguma coisa. Mas os cubanos deram-me muito mais. Muito mais do que eu lhes dei. Ensinaram-me que a vida não se resumia a uma Coca-Cola gelada.

Abril de 2018. O destino fez-me voltar a Cuba. De novo, com a máquina fotográfica. E Cuba está tão igual e tão diferente. O turbilhão das recordações e das comparações era inevitável. Agora, lojas cheias. De pessoas e produtos. Alfaces e flores. Artistas e associações. Turistas e dólares. Autocarros e calhambeques. Bandeiras dos Estados Unidos e de Cuba. Telemóveis de última geração e internet, mas só nos jardins. Sapatilhas de marca e filas para os teatros. Pequenos empresários e funcionários públicos. Segurança e simpatia. Escola na mais remota aldeia. Universidades em todas as províncias (só de Medicina são 21 faculdades). Saúde universal e gratuita para todos. Tolerância zero à droga e à corrupção. Eleições e partido único. Enganem-se aqueles que esperam ver em Cuba o paraíso ou o inferno.

No jardim dos gelados Copélia, agora todo recuperado, um casal de namorados beija-se. Estão apaixonados. Nota-se bem. A baunilha mistura-se com o chocolate. Uma síntese perfeita da sociedade cubana. O socialismo a experimentar timidamente o capitalismo. E todos nós sabemos como é o capitalismo. É como aquele monstro dos filmes de Hollywood, nunca morre por mais tiros que leve, é viscoso, traiçoeiro e espalha-se por todo lado. Cuba irá render-se ao monstro? Não sei e duvido que alguém saiba.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários