PCP defende aumento geral dos salários e Bloco põe a tónica na precariedade

Para Jerónimo de Sousa, no quadro actual, um salário mínimo de 600 euros não é aceitável. Catarina Martins diz que está certa de que "o salário mínimo vai seguramente aumentar em 2019".

Jerónimo de Sousa
Fotogaleria
Jerónimo de Sousa LUSA/MARIO CRUZ
Catarina Martins
Fotogaleria
Catarina Martins LUSA/MÁRIO CRUZ

O secretário-geral do PCP defendeu esta terça-feira um aumento geral dos salários, considerando "um escândalo" que os funcionários públicos continuem sem aumentos e que 600 euros de salário mínimo "não são aceitáveis" no actual quadro.

Jerónimo de Sousa, que falava aos jornalistas na Avenida Almirante Reis, em Lisboa, durante a manifestação do 1.º de Maio da CGTP-IN, acusou o PS de estar ao lado do PSD e do CDS-PP em matéria de legislação laboral, contra as iniciativas do PCP.

Segundo o secretário-geral do PCP, "muitos dos problemas que hoje existem poderiam ser resolvidos e não se resolveram devido a esta convergência PSD e CDS".

"Há semanas atrás derrotaram iniciativas de grande importância, que são aspiração e reivindicação dos trabalhadores portugueses", referiu.

Interrogado sobre o valor previsto pelo Governo para o salário mínimo em 2019, o secretário-geral do PCP respondeu que "600 euros não são aceitáveis num quadro em que tem havido tanta desvalorização dos salários dos trabalhadores".

"Defendemos o aumento geral dos salários, seja no público, seja no privado", afirmou.

No que respeita à política salarial na Administração Pública, Jerónimo de Sousa disse que os funcionários públicos "há nove anos não levam um cêntimo de aumento".

"Isso é um escândalo, é inaceitável, tendo em conta que esses trabalhadores perderam poder de compra de uma forma significativa. É da mais elementar justiça que sejam aumentados", considerou.

De acordo com Jerónimo de Sousa, o descongelamento de carreiras foi "importante, devido à insistência e à proposta do PCP, mas claramente insuficiente".

"O Governo deve disponibilizar-se a negociar com os sindicatos a possibilidade de um aumento real dos salários da Administração Pública", reforçou.

O secretário-geral do PCP comparou a concentração da riqueza com a evolução dos rendimentos dos trabalhadores: "A parte de leão continua a ir para uma minoria, enquanto a maioria dos trabalhadores, uns cresceram 0,3%, 0,5%, e isto num quadro em que houve esse aumento do salário mínimo nacional".

"É tempo de repor uma mais justa distribuição da riqueza", concluiu.

Interrogado sobre o Orçamento do Estado para 2018, Jerónimo de Sousa repetiu a posição de princípio do PCP de que "não há apoios antecipados" e o compromisso do seu partido é "fazer o exame, examinar a proposta" do Governo.

"Não existe proposta, não existe documento, portanto, seria, naturalmente, apressado e errado fazermos já juízos de valor de uma coisa que ainda não conhecemos. Não existe. Temos esta disponibilidade, participaremos na discussão do Orçamento do Estado, da sua proposta, para procurar melhorar também nesse documento fundamental a vida dos portugueses", acrescentou.

A coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Catarina Martins, falou hoje aos jornalistas no arranque da manifestação do 1.º de Maio da CGTP-IN, momento em que houve alguns encontrões a militantes bloquistas que se encontravam em redor.

Este incidente aconteceu em frente à sede do BE, na Rua da Palma, em Lisboa, onde militantes e apoiantes deste partido se concentraram antes da manifestação da CGTP começar, com uma faixa onde se lia: "40 anos de descontos - Reforma por inteiro. Justiça para quem trabalha. Trabalho para quem precisa".

Quando a manifestação arrancou, Catarina Martins foi dali a pé até ao início do cortejo para cumprimentar o secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, e os dois trocaram algumas palavras, com a comunicação social disposta num círculo à sua volta.

Depois, a coordenadora do BE acabou por falar ali mesmo aos jornalistas sobre o Dia do Trabalhador, com Arménio Carlos atrás de si, travando por um ou dois minutos o avanço do desfil

"Com precariedade não há democracia, não há valorização salarial. Respeitar quem trabalha é garantir um vínculo permanente a todas as pessoas que ocupam um posto de trabalho permanente", afirmou Catarina Martins, concluindo as declarações já em movimento.

Segundo os relatos à agência Lusa, foi nesta altura que, nas costas da comunicação social, na ala direita do cortejo, dois ou três membros da organização afastaram com encontrões militantes e apoiantes do BE que estavam naquele lado da estrada. Houve quem tivesse caído ao chão com a força dos empurrões.

A agência Lusa testemunhou a reacção da militante do BE Julieta Rocha, que foi quem mais se exaltou com a situação, dirigindo-se para um dos membros da organização e gritando: "Sectário". A antiga deputada Helena Pinto também correu indignada em direcção de um homem que fazia a segurança do cortejo. As duas foram depois amparadas e acalmadas por outros militantes do BE.

Nas declarações que fez aos jornalistas junto ao início do cortejo, a coordenadora do BE apoiou a reivindicação da CGTP de "valorização salarial", considerando que "é uma exigência justa num país que é muito desigual e com salários muito baixos".

Questionada sobre a evolução do salário mínimo nacional, actualmente nos 580 euros e que o Governo prevê aumentar para 600 euros no próximo ano, Catarina Martins começou por salientar que "o salário mínimo vai seguramente aumentar em 2019".

"Achamos que o salário mínimo já devia estar nos 600 euros, mas fizemos um acordo que obriga a que o salário mínimo suba, no mínimo, 5% até chegar aos 600 euros. Devia ser mais do que isso, porque temos um dos salários mínimos mais baixos da Europa", acrescentou.

Neste Dia do Trabalhador, a coordenadora do BE destacou como bandeira "a luta contra a precariedade", no setor público e no privado, referindo que "Portugal é o país com mais prevalência de contratos a prazo de toda a União Europeia", o que qualificou de "uma verdadeira vergonha, uma calamidade".

"Estamos a lutar por alterações legislativas nos contratos a prazo, para combater a precariedade no privado. Temos em curso um processo de regularização de precários da Administração Pública, pelo qual o BE tem lutado. Esse é o nosso compromisso, não abdicamos dele", disse.