Prémio de liberdade de imprensa da UNESCO para Shawkan, preso desde 2013 no Egipto

O fotojornalista Shawkan foi apanhado no meio de uma demonstração que degenerou em massacre com uma câmara na mão, em 2013. Está preso desde então e arrisca-se à pena de morte.

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Uma das fotografias de Mahmoud Abou Zeid, que assina como Shawkan. Preso há cinco anos, o fotógrafo arrisca-se à pena de morte por ter fotografado demonstrações anti-governo em 2013 (como se vê nesta fotografia) Mahmoud Abou Zeid/getty images
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Shawkan numa das audiências em tribunal, em 2016. A defesa já tentou libertá-lo inúmeras vezes, sem sucesso Amr Dalsh/reuters
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Manifestações de colegas do fotojornalista freelance, em prisão preventiva há cinco anos Mohamed Abd El Ghany/reuters

O fotojornalista egípcio Mahmoud Abou Zeid, que usa o nome Shawkan para assinar os seus trabalhos, foi distinguido, esta segunda-feira, com o prémio da Liberdade de Imprensa da UNESCO. Preso há cinco anos, o fotógrafo arrisca-se à pena de morte por ter fotografado demonstrações anti-governo em 2013.

A sua prisão é denunciada regularmente por organizações como a Amnistia Internacional, que defendem que o fotojornalista foi detido sumariamente enquanto fazia o seu trabalho. Shawkan foi vítima das circunstâncias – foi apanhado no meio de uma demonstração que degenerou em massacre por parte das forças governamentais com uma câmara fotográfica na mão, em 2013.

Foi um júri independente, composto por profissionais dos media, que escolheu distingui-lo com o galardão. Ao atribuir-lhe o prémio, a UNESCO descreveu a sua prisão como “contrária às liberdades garantidas pela Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Pacto Internacional relativo aos Direitos Civis e Políticos”.

“A escolha de Mahmoud Abou Zeid homenageia a sua coragem, resistência e o seu compromisso com a liberdade de expressão”, disse Maria Ressa, presidente do júri que atribuiu a distinção, em comunicado. O prémio vai ser atribuído oficialmente a 2 de Maio, Dia Mundial da Liberdade de Imprensa.

A escolha não agradou às autoridades do Cairo. O ministro dos Negócios Estrangeiros egípcio disse, no domingo, que a nomeação foi “dirigida por um certo número de organizações não-governamentais, algumas delas dominadas pelo estado do Qatar, que é conhecido pelo seu apoio e pela sua defesa permanente ao grupo terrorista da Fraternidade Muçulmana”, cita o Le Monde.

O prémio de liberdade de imprensa da Unesco, também conhecido como prémio Guillermo Cano, distingue uma pessoa, organização ou instituição que tenha “contribuído de uma maneira notável pela defesa ou promoção da liberdade de imprensa” face ao perigo. A distinção recebe o nome de Guillermo Cano Isaza, jornalista colombiano morto em frente à redacção do jornal El Espectador, em Bogotá, Colômbia, a 17 de Dezembro de 1986.

A operação de guerra que resultou em prisão

Shawkan está preso desde 14 de Agosto de 2013, enquanto se preparava para cobrir uma demonstração pró-Morsi, Presidente deposto, na praça Rabaa Al-Adawiya, no Cairo, com outros jornalistas. Os manifestantes estavam acampados nessa praça desde o dia 3 de Julho, dia da destituição de Mohamed Morsi pelas forças armadas. Protestavam contra o golpe militar que pôs fim ao Governo islamista, e, de acordo com a Irmandade Muçulmana, estavam dispostos a morrer pela causa.

Morreram. Da repressão brutal, que rapidamente se tornou num massacre, com tanques de guerra e escavadoras a investiram sobre o acampamento e tiros de artilharia, resultaram cerca de 800 mortos, entre manifestantes e forças da autoridade.

Shawkan, que trabalhava maioritariamente como freelancer mas que naquele dia ia fotografar para a agência britânica Demotix, foi mandado parar e detido pelas autoridades enquanto se dirigia para a praça. Os fotógrafos estrangeiros que seguiam com ele foram libertados. Já Shawkan foi levado para a prisão, assim como centenas de outros egípcios, acusados de terem participado em manifestações pró-islamistas.

O fotógrafo está preso desde então – mantido em prisão preventiva durante quase cinco anos, ultrapassando o limite de dois anos previsto pela lei. Foi acusado de vários crimes: de ter pertencido à Fraternidade Muçulmana, actualmente ilegalizada no Egipto; posse de armas de fogo e de homicídio. Está incluído no processo conhecido como “Desmantelamento de Rabaa” e está a ser julgado desde 2015, juntamente com outros 738 egípcios.

Mahmoud Abou Zeid nega todas as acusações e a defesa já tentou libertá-lo inúmeras vezes, sem sucesso. Tentou apresentar provas da sua profissão, da condição médica (o fotógrafo sobre de Hepatite C) e da sua não-pertença à Fraternidade Muçulmana, mas até agora nada resultou.

O fotógrafo espera novo julgamento, esta quarta-feira, mas ainda não será esta semana que vai conhecer o seu destino. 

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