“Influência” na arbitragem, poder político e judicial era objectivo da SAD do Benfica
De acordo com uma apresentação PowerPoint de 2012, um dos objectivos do clube para os cinco anos seguintes era "melhorar a capacidade de influência" junto do poder político e judicial.
Numa reunião dos quadros da Sociedade Anónima Desportiva (SAD) do Benfica, de Junho de 2012, ficou claro que um dos objectivos do clube para o futuro era aumentar a sua “influência” junto de responsáveis de arbitragem e de outras estruturas do futebol nacional. A informação foi apresentada num PowerPoint durante a reunião, e foi agora divulgada pelo blogue Mercado de Benfica e pelo site da revista Sábado.
A apresentação estaria na caixa de correio de Domingos Soares Oliveira, administrador da SAD entre 2009 e 2012. Na troca de e-mails, que agora foi tornada pública, ultimavam-se os pormenores do PowerPoint de exposição dos “desafios” dos próximos cinco anos para a sociedade desportiva.
Para além das metas desportivas e comerciais, como “melhorar a proximidade entre o jogador e a organização”, foram enumerados também “desafios” na “vertente externa”. Estes desafios passariam por reforçar o “controlo/influência nas diferentes áreas do poder na indústria"; junto da "Federação e respectivos conselhos de arbitragem"; no “poder político”; nos “meios de comunicação” e no poder “judicial. No final, surge um peremptório “Melhorar a capacidade de influência”, em jeito de conclusão.
De acordo com a nova leva de e-mails revelados pelo blogue Mercado de Benfica, há ainda indícios de que foi o clube da Luz a pagar as despesas judiciais dos dois funcionários da Prossegur, envolvidos em agressões com cinco jogadores do FC Porto e condenados a penas de multa pelo Tribunal da Relação de Lisboa.
Contactado pelo PÚBLICO, o Benfica não quis comentar a publicação do blogue Mercado de Benfica.
A divulgação dos e-mails trocados pelos dirigentes da SAD do Benfica, conhecida como “caso dos e-mails” remonta a Junho de 2016, altura em que Francisco J. Marques, director de comunicação do FC Porto, revelou no Porto Canal e-mails que terão sido trocados entre Adão Mendes, antigo árbitro da Associação de Futebol de Braga, e Pedro Guerra, director de conteúdos da Benfica TV e comentador da TVI, e que segundo aquele responsável portista configuram a existência de uma alegado “esquema de corrupção [na arbitragem] para beneficiar o Benfica”.
O Benfica desmetiu logo “as falsas e absurdas insinuações do director de comunicação do FC Porto”, mas o caso seguiu com novas divulgações de e-mails. O Benfica avançou com um procedimento cautelar e, em Fevereiro deste ano, o Tribunal da Relação do Porto deu razão ao Benfica e proibiu o FC Porto de revelar os e-mails dos "encarnados".
O "caso dos e-mails" motivou dez buscas da Polícia Judiciária a responsáveis do Benfica, incluindo o presidente, Luís Filipe Vieira, que também é arguido na Operação Lex.
Em Março de 2018 foram divulgados, pelo blogue Mercado de Benfica, elementos que fazem parte do despacho do Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa que resumem os indícios existentes contra os dois detidos do processo E-Toupeira, José Silva e Paulo Gonçalves. Os dois foram detidos por suspeitas de terem subornado três funcionários judiciais para lhe fornecerem peças processuais do chamado caso dos e-mails em troca de camisolas ou bilhetes para a bancada VIP do Estádio da Luz.