Marcelo e Rio afastam cenário de crise política

Em Santa Maria da Feira, o Presidente da República reiterou a importância da “normal conclusão da legislatura”. Mais tarde, o líder social-democrata revelava não ter ficado surpreendido com as “tensões entre o BE, PS e, provavelmente, PCP”.

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Horas depois de Marcelo, Rui Rio esteve no congresso da CIP LUSA/MANUEL FERNANDO ARAÚJO
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Rio à chegada a Santa Maria da Feira LUSA/MANUEL FERNANDO ARAÚJO

Rui Rio não se cruzou esta quarta-feira com o Presidente da República, em Santa Maria da Feira, no Congresso da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP), mas o líder do PSD, tal como Marcelo Rebelo de Sousa, diz que não lhe “agrada” uma eventual crise política. De manhã, na sessão inaugural do congresso, o Presidente da República reiterou a importância da “normal conclusão da legislatura” e da aprovação do Orçamento do Estado para o próximo ano, declarando mesmo que prefere “não ter de intervir a não ser para o promulgar”.

“O Presidente da República limita-se a recordar o óbvio, isto é, que considera, como sempre considerou, a normal conclusão da legislatura como muito importante para Portugal e que prefere, portanto, não ter de intervir na sequência da votação do Orçamento a não ser para o promulgar”, afirmou Rio perante os congressistas no Europarque, em Santa Maria da Feira.

Numa altura em que o Bloco de Esquerda faz alguma pressão sobre o Governo, advertindo-o que criará "instabilidade" na maioria parlamentar de esquerda caso mantenha a intenção de inscrever uma meta de défice de 0,7% no Programa de Estabilidade que deverá ser aprovado em Conselho de Ministros esta quinta-feira, o Presidente da República é prudente. “[Se uma] crise política é indesejável”, uma “crise política decorrente ou envolvendo o Orçamento do estado é duplamente indesejável para todos, até por poder gerar cenários imediatos de elevado preço para o país”, disse.

Ao princípio da tarde, era a vez do líder do PSD dizer que “uma crise política não é algo que Portugal deseje só que estou convencido que as palavras do senhor Presidente da República acima de tudo são para a coligação parlamentar à esquerda, que tem que garantir a estabilidade política”.

Questionado a dizer se está disposto a viabilizar o Programa de Estabilidade que inscreva um défice de 07% para o próximo ano, Rio não abriu o jogo, declarando apenas que o “Programa de Estabilidade não tem apenas o défice tem muitas mais coisas”. E remeteu uma posição para amanhã, quando o documento for entregue na Assembleia da República. “Vamos analisar o Programa de Estabilidade e depois emitiremos uma opinião sobre isso”, declarou, referindo achar “importante que o défice português se vá reduzindo todos os anos. Sempre disse isso”.

Sobre os avisos que tanto Catarina Martins como Mariana Mortágua têm vindo a fazer nos últimos dias, o líder social-democrata não se mostra surpreendido. Deixa claro que não lhe “agrada” uma eventual crise política e que “já esperava” que acontecessem "tensões entre o Bloco de Esquerda, PS e, provavelmente, PCP, à medida que se aproximam as eleições".

"Essas tensões entre o Bloco de Esquerda, o PS e, provavelmente, o PCP, é algo que já estava à espera há muito tempo. Não vejo com grande admiração que à medida que nos aproximamos das eleições, eles tenham mais dificuldade em conseguir a estabilidade que até à data conseguiram", disse Rui Rio aos jornalistas.

Servir Portugal

Na intervenção que proferira minutos antes, Rui Rio manifestou o seu total empenho na missão de “colocar em primeiro lugar o interesse de Portugal e só depois o interesse partidário”, para "tentar fazer aquilo que nunca se fez".

"Tendo chegado à idade que cheguei, disponibilizar-me para esta missão, só tem um sentido: é servir Portugal. Não estou aqui a fazer nada se não for para fazer isso. Se estou aqui é apenas para tentar fazer aquilo que nunca se fez", disse. É que para o líder social-democrata, “não é sustentável continuar com o poder político descredibilizado perante a opinião pública".

"Os partidos deveriam entender-se para fazerem um conjunto alargado de reformas", defendeu, assumindo que aquilo que pretende fazer “talvez seja uma revolução, mas uma revolução pelas reformas”. E acrescentou: “Se conseguirmos fazer uma série de reformas, no quadro do sistema político e no quadro do sistema judicial, em nome do interesse nacional e não em nome do interesse partidário, penso que Portugal aspirará a conseguir ter a médio de prazo outra vez um contrato de confiança entre os portugueses e o regime".

Depois de sublinhar que é importante ter presente as razões pelas quais Portugal foi forçado a pedir a intervenção da troika, para que "em circunstância alguma, isso se repita", Rio virou a página para dizer que na actual conjuntura a maior parte dos indicadores são mais favoráveis. "No presente, o saldo externo é positivo, a dívida externa tem-se reduzido, o sistema financeiro está equilibrado e o crescimento económico é positivo. O único [indicador] que está pior é o valor da dívida pública. A dívida pública cresce sempre”, frisou, notando, contudo, que estes resultados não têm a ver com reformas que estejam a ser feitas. Têm a ver com o poder de arrasto da economia externa, nomeadamente da Europa", referiu.

Segundo o líder do PSD, “estes indicadores são filhos de uma conjuntura e não filhos de uma política estrutural”. E deixou um apelo: “Temos de reduzir a divida pública. É preciso que o país esteja disposto a conseguir alguns acordos estruturais".

Na fase das perguntas, Rio foi questionado sobre várias áreas, desde os círculos uninominais à eventual “criação” de tribunais mais especializados para as empresas. Sobre os círculos uninominais, o ex-presidente da Câmara do Porto pede mudanças, mas não tem ainda uma opinião fechada. “O sistema de eleição de deputados que temos em Portugal quando foi criado em 1976 (…), só que passaram 40 e tal anos e o sistema enquistou-se, desgastou-se, arranjou vícios, perdeu transparência e funciona muito na lógica dos aparelhos partidários e sendo verdade, temos de o alterar”, disse, sem apontar uma solução quanto ao sistema a seguir, embora tenha deixado claro que é “contra” o sistema inglês que é totalmente uninominal.

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