Soldados responsáveis por massacre com pena inferior à pedida para jornalistas que o investigaram

Exército birmanês concluiu investigação interna sobre execução de dez rohingyas por militares, condenando-os a dez anos de prisão. Jornalistas que investigavam o caso enfrentam pena de 14 anos.

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Imagem obtida pela Reuters dos rohingya que foram executados pelos militares birmaneses Reuters/HANDOUT

Sete soldados birmaneses foram condenados a penas de dez anos de prisão e trabalhos forçados pela sua participação na execução de um grupo de homens pertencentes à minoria rohingya em Setembro, durante a ofensiva militar no estado de Rakhine, no Noroeste do país.

O massacre foi investigado – e posteriormente revelado – por dois jornalistas da Reuters que entretanto foram detidos e enfrentam acusações que lhes podem valer uma pena de 14 anos de prisão. Esta quarta-feira, um tribunal de Rangum rejeitou um pedido para libertar os dois jornalistas, que continuam em prisão preventiva. O juiz disse que o tribunal quer ainda ouvir as restantes nove testemunhas da acusação, disse o advogado de defesa, Khin Maung Zaw.

Os dois jornalistas são acusados de terem obtido de forma ilegal documentos governamentais considerados sensíveis e podem ser condenados com base numa lei da época colonial.

“Estamos muito desapontados com a decisão do tribunal”, disse o presidente da Reuters, Stephen Adler. A Reuters publicou a investigação em que os dois jornalistas estavam a trabalhar, em que era contada a forma como dez homens de uma aldeia foram executados por militares e outros moradores budistas da mesma aldeia, e depois enterrados numa vala comum.

As autoridades birmanesas anunciaram em Fevereiro que iam abrir uma investigação interna aos eventuais abusos cometidos por um grupo de militares. Tratou-se do único inquérito lançado pelo Governo, apesar de várias organizações de defesa dos direitos humanos terem divulgado testemunhos que apontavam para a existência quase generalizada de execuções e violações de civis e destruição de aldeias inteiras por parte do Exército.

No Verão do ano passado, Rakhine tornou-se no palco de uma intervenção militar muito agressiva contra alegadas células terroristas rohingyas, que teriam estado por trás de alguns ataques a postos da guarda fronteiriça. Mais de meio milhão de rohingyas fugiram para o vizinho Bangladesh perante o avanço dos militares, enquanto o Governo limitou fortemente a entrada de jornalistas e organismos internacionais na região afectada.

Em várias ocasiões, a ONU lançou alertas para o perigo de se estar a assistir a práticas próprias de limpeza étnica e deixou apelos ao Governo liderado pela Prémio Nobel da Paz Aung San Suu Kyi para travar o Exército.

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