Amo-me tanto!

Tenho uma explicação para a profusão de selfies. De tanto se fotografarem e de tanto olharem para essas fotografias as pessoas sujeitaram-se a uma maciça campanha publicitária delas próprias.

Tenho uma explicação para a profusão de selfies. De tanto se fotografarem e de tanto olharem para essas fotografias as pessoas sujeitaram-se a uma maciça campanha publicitária delas próprias, resultando num caso grave de narcisismo induzido. É o estudo da sequência de selfies antes de chegar à fotografia desejada, repetido com o acréscimo de cada like depois de instagramado.

Acontece o mesmo com as estrelas de cinema: recebem tanta atenção, são tão badaladas em exercícios de promoção e relações públicas, que começam a acreditar no próprio bullshit, tornando-se vítimas do hype, se me é permitida só mais uma palavra estrangeira.

Mesmo a pessoa mais feia sucumbe à auto-sedução. O ser humano adapta-se a tudo. Repetidas exposições à mesma tromba ao longo dos anos levam primeiro à habituação e depois à admiração. Primeiro, deixamos de nos acharmos feios. Depois damos por nós a achar que não somos maus de todo. Passado pouco tempo já estamos in love com o nosso semblante.

As gerações pre-selfies sabiam de cor e com ódio todos os defeitos físicos que tinham. Se ouvissem um elogio começavam logo a pôr em causa a lucidez do observador, contrapondo as máculas: a sobrancelha manca, o queixo de Shrek, os olhos cor de lama...

Assim passou-se dum tempo excessivamente crítico em que toda a gente se queixava dos baixos níveis de auto-estima para a actual orgia de narcisismo compulsivo em que qualquer comentário menos idólatra é considerado um ataque inaceitável aos direitos humanos do visado.

 

 

 

 

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