Pense nos passageiros

Tirei a carta em Manchester. O meu instrutor ensinou-me a guiar de acordo com o conforto dos passageiros. Quando conto isto a portugueses riem-se e dizem-me que eu fui treinado para motorista.

As pessoas mais novas riem-se quando lhes conto que os condutores portugueses eram muito piores do que são hoje. É-lhes difícil imaginar "muito piores" do que ainda são.

Os condutores são maus uns para os outros mas - um mal pouco comentado - também são horríveis para os passageiros. Não têm noção do que é viajar nos assentos de trás. Nem sequer têm noção do que sofre o passageiro da frente.

Tirei a carta em Manchester. O meu instrutor ensinou-me a guiar de acordo com o conforto dos passageiros. Quando conto isto a portugueses riem-se e dizem-me que eu fui treinado para motorista - como se isso não fosse uma coisa boa!

Ensinou-me, para os passageiros se sentirem mais seguros, a desacelerar quando se entra numa curva e a acelerar suavemente quando se começa a sair da curva.

Como o instrutor tinha passado muitos anos no lugar da frente, ao lado dos aprendizes, era um perito em desconforto, medo e insegurança. Sabia pôr a caixa de velocidades a trabalhar para aumentar a sensação de estabilidade e de controlo do automóvel. Sabia usar o volante - com as duas mãos sempre às dez para as duas - para transmitir aos passageiros uma sensação de suavidade e de segurança. Sabia que o condutor é privilegiado pela posição que ocupa - o passageiro do lado, por exemplo, tende a pensar que se está mais próximo das bermas do que, de facto, está.

A atitude portuguesa para os passageiros é dizer-lhes, com um misto de pena, irritação e condescendência: "Não tenhas medo". Está bem, está.

 

 

 

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