Com a venda do grupo Dogan, a palavra de Erdogan estará em todos os jornais

O jornal Hürriyet ou a televisão CNN Turk, que mantinham uma cobertura independente na Turquia, serão vendidas a um empresário próximo do Presidente turco.

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Aydin Dogan, fundador e proprietário do grupo, com o Presidente Erdogan, em 2012 NARCH3/REUTERS

O último grande grupo de media com publicações que mantêm uma cobertura crítica do Presidente turco esta a negociar a venda dos seus jornais, de que faz parte o Hürriyet, canais de televisão – entre elas a CNN Turk – e rádios à holding Demiroren, considerada próxima de Recep Tayyip Erdogan.

“Esta venda é a morte do pluralismo e do jornalismo independente nos media turcos de grande difusão”, disse à Reuters Orol Onderoglu, representante na Turquia dos Repórteres sem Fronteiras (RSF). O Hürriyet tem uma circulação de 300 mil exemplares, é um grande jornal turco, e mantém uma edição em inglês online.

O Cumhuriyet, um jornal de centro-esquerda, considerado de referência, viu o seu director e metade dos seus jornalistas serem presos e acusados ao abrigo do estado de emergência e de uma lei contra o terrorismo que a União Europeia e outras entidades dizem não cumprir os requisitos do Estado de direito. Juntamente com outros jornais de esquerda, como o Evrensel e o BirGun, não chegam a vender 45 mil exemplares diariamente, disse à Deutsche Welle Christian Mihr, também da RSF.

“O Governo tem agora completo controlo dos media, quando se prepara para as eleições de 2019. No meio de uma repressão sem precedentes da sociedade civil e da oposição, só uma mão-cheia de jornais de baixa circulação oferece ainda uma alternativa à propaganda governamental”, comentou Onderoglu. Após a venda, 21 dos 29 diários turcos serão controlados por empresas que apoiam Erdogan – 90% da circulação de jornais turca será pró-governo, estimou o diário turco Birgun, citado pela Reuters.

O grupo Dogan foi multado em 2,5 mil milhões de dólares (2,03 mil milhões de euros) em 2009 por não ter pago impostos – algo que foi visto na altura como uma tentativa de forçar o grupo a calar críticas a Erdogan.

O proprietário do grupo, Aydin Dogan, foi na altura obrigado a vender os jornais Milliyet e Vatan à Demiroren – uma holding que tem como principais interesses a energia, a construção e o turismo. Os dois jornais tornaram-se fervorosos apoiantes de Erdogan depois de terem sido vendidos.

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