Jovens, investigadores e trabalhadores: emigrem!

Passados estes anos, ainda não soubemos inverter esta fuga em massa dos nossos melhores. Porque teimamos em não valorizar o seu valor como trabalhadores, porque continuamos a não querer celebrar contratos e pagar salários dignificantes

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ohurtsov/Pixabay

Todos os dias entram notícias de sucesso pela nossa casa adentro. Foi o défice que diminuiu, o desemprego que caiu, a economia que cresceu, as palmadinhas nas costas da União Europeia (UE), enfim, parece que estamos numa maré de desenvolvimento.

O grande problema é que este desenvolvimento e crescimento não é acompanhado de políticas de crescimento, apoio e alavancagem no que aos jovens diz respeito. Continuamos a emigrar ao milhares, e por que será? Será porque não queremos viver no país que nos viu crescer? Ou porque achamos sempre que lá fora tudo é mais giro? Uma simples questão de estética? Não podia estar mais longe disso.

Este país continua a negligenciar aqueles que são o maior capital de desenvolvimento e progresso — os jovens. Com um olhar rápido de revista à situação actual podemos afirmar que existe, pelo menos, uma mudança na maneira de estar dos jovens, o que leva a que uns se venham queixar que não existe mão-de-obra para determinados sectores, como a hotelaria. A consequência lógica desta afirmação de consciência de nova geração é a recusa de ser mal pago por trabalho qualificado, exigente e de qualidade.

Se investimos em cursos profissionais, superiores e técnicos para formar profissionais com qualidade, vamos continuar a pagar-lhes como se, antes do momento em que se apresentam ao trabalho, não tivessem existido anos e anos de investimento à espera de um retorno? O problema é este — queremos empregar inteligência, qualidade, inovação, esforço, mas não queremos é pagar por nada disso. Veja-se a situação dos bolseiros, investigadores e trabalhadores científicos que trabalham, inovam e investigam de bolsa em bolsa, de expectativa em expectativa, sem que nunca lhes seja celebrado um contrato de trabalho, eternizando a situação de precariedade em que vivem.

Estamos a falar, como já muito se afirmou, da geração mais qualificada de sempre em Portugal, mas nem por isso é a mais bem paga. Hoje, recebem e lucram muito mais as empresas de trabalho temporário, que ganham dinheiro sem nunca produzir, nem criar nada de novo, do que estes trabalhadores científicos que todos os dias contribuem para o desenvolvimento tecnológico, científico e social deste país.

Há quem diga que não é uma prioridade pensar nisto, que isso das investigações e das ciências é coisa que se faz bem no estrangeiro, lá é que eles têm condições para isso. Infelizmente, muitos são obrigados a ir para o estrangeiro. Não porque têm melhores condições, porque no que toca a infra-estruturas Portugal não está assim tão mal; não porque se investigue melhor lá do que cá; antes porque lá há quem respeite o trabalho de quem passa horas e horas a procurar soluções para problemas que não os seus.

Passados estes anos, ainda não soubemos inverter esta fuga em massa dos nossos melhores. Porque teimamos em não valorizar o seu valor como trabalhadores, como pessoas, porque continuamos a não querer celebrar contratos e pagar salários dignificantes, porque ainda somos um país que prefere reforçar os gastos com despesas militares e aumentar os contributos para o orçamento comum da União Europeia do que pagar o salário digno à juventude que se arrisca a viver em Portugal.

A emigração não é coisa do passado e não podemos esperar que seja o nosso futuro.

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