Há um ano que o rock alternativo “malfeito” ecoa por Fafe

Quatro amigos decidiram, no início de 2017, formar a promotora Malfeito e colocar a sua cidade no mapa do rock alternativo em Portugal. Estabelecida uma programação regular com cerca de 15 eventos e 20 nomes, nacionais e estrangeiros, a associação comemora um ano de concertos com uma noite dupla no Café Avenida, espaço já centenário.

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Um pano preto pintado a letras brancas, bem ao estilo mal feito da promotora, anuncia, sobre a porta do Café Avenida, junto à Câmara Municipal, as bandas escolhidas para assinalar um ano dedicado aos sons mais alternativos do rock, em Fafe. Depois de, nesta sexta-feira, aquele café fundado em 1909 acolher os Psychtrus, quarteto oriundo de Santo Tirso, e os Sunflowers, duo do Porto, neste sábado, sobem ao palco os também portuenses FUGLY e os Kings of the Beach, trio de Vigo.

A Malfeito resultou de um desejo de quatro jovens – Guilherme Pinto dos Santos, Michel Oliveira, Vítor Silva e João Marques – para dar à sua cidade os concertos de rock alternativo a que, por cerca de uma década, só puderam assistir ou em Guimarães, ou em Braga ou no Porto.

A oportunidade decisiva para a ideia avançar surgiu no Verão de 2016, quando Guilherme, Michel e Vítor, também membros da banda El Señor, encontraram um espaço à medida nas traseiras do Café Avenida. “Nunca tinha vindo aqui antes. Quando entrámos aqui pela primeira vez e vimos uma sala destas, foi caso para perguntar onde é que andávamos”, conta Michel.

Reconhecido ao longo do século XX como um café político, que, durante o Estado Novo, chegou a acolher reuniões de opositores ao regime, o Avenida tornou-se num espaço vocacionado para a música, quando mudou, há dois anos, de gerência. “Em Fafe, não havia um sítio onde houvesse boa música e conseguissem estar quatro pessoas a conversar. Os concertos sempre estiveram na nossa ideia”, lembra Arnaldo Leite, um dos três sócios.

As duas salas traseiras, antes ocupadas por bilhares e por arrumos, foram remodeladas. Uma delas, decorada com guitarras e pratos de bateria nas paredes, tornou-se num espaço para convívio. A outra é o espaço que, desde 03 de Março de 2017, quando os fafenses Âmbar e os leirienses Cave Story atraíram mais de 100 pessoas, tem acolhido quase todos os concertos nocturnos (Noites Malfeitas).

Além do trabalho para preparar essa noite, Guilherme Pinto dos Santos recorda o nervosismo associado a quem se lança em “mares desconhecidos” e está ainda “verdinho”, apesar do evento se ter revelado um sucesso. Constituída como associação em maio, a Malfeito seguiu assim em frente com um ou dois eventos mensais, numa programação repartida pelas Noites Malfeitas e pelas Matinés Malfeitas – decorrem à tarde na Sala Touro, com 50 pessoas por concerto -, que teve até agora nomes portugueses, mas também oriundos de Espanha, da Holanda e dos Estados Unidos.

Resposta positiva do público

A recepção à entrada do rock alternativo em Fafe era, para a Malfeito, um ponto de interrogação, uma vez que, para Michel Oliveira, ainda reina na cidade uma mentalidade de que, por exemplo, “um concerto em Guimarães por cinco euros não é muito, mas em Fafe é”, apesar do panorama estar a mudar. “Tem sido melhor do que o que estávamos à espera. E a qualidade de público também. O povo vem mesmo para aqui e diverte-se”, frisou.

Os espectáculos, referiu o baixista dos El Señor, têm atraído igualmente público de fora da cidade e também de diferentes idades, com os adolescentes a darem-lhe esperança que o trabalho possa, no futuro, ser prosseguido.

Já Arnaldo Leite, frisou que o impacto dos concertos tem sido tal, que os clientes regulares já nem admitem que se passe outro estilo de música que não o rock, a “essência do espaço”, enquanto Guilherme Pinto dos Santos chamou a atenção para o facto de, para além do público, as bandas se sentir Café Avenidaem ali confortáveis. “Já recebemos mensagens a dizerem que querem cá vir tocar outra vez. Até ao momento, criámos uma relação muito boa com toda a gente”, disse.

Manter a essência, com novidades aqui e ali, é o futuro

Quando olha para além do primeiro ano de vida, a Malfeito pretende, em primeiro lugar, “manter a onda” que tem seguido antes de arriscar novas iniciativas. Uma das tentações a evitar, diz Michel Oliveira, é a sobrecarga da agenda de concertos. “Poderíamos ter três concertos por mês, mas preferimos um, com aquela cena de ser exclusivo e de ter aí um bom número de pessoas”, observa.

As ideias para o futuro enquadram-se, por isso, em complementar a programação existente, com sessões de dj set, à noite ou até durante o dia, aquando do verão, na esplanada, e com exposições. Aquando da segunda Noite Malfeita, em abril, a única que decorreu na Casa da Cultura de Fafe, com um concerto dos norte-americanos Sugar Candy Mountain, a promotora organizou uma exposição de ilustração, algo para repetir. “Tem é que ser tudo bem pensado, para não darmos dois passos à frente e três para trás. O que fizemos bem foi estudar a cidade”, explica Michel.

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