Ginastas norte-americanas denunciam treinos com ossos partidos e abusos emocionais

O ambiente tóxico criado pelos treinadores permitiu que o médico da equipa de ginástica norte-americana abusasse sexualmente das atletas durante décadas, apontam as ex-ginastas.

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Reuters/BRENDAN MCDERMID

Quando começaram, eram crianças à procura do sonho olímpico. Meninas que sonhavam ser as melhores ginastas. Agora, são mulheres com lesões crónicas, problemas de ansiedade e distúrbios alimentares. Uma investigação conduzida pela Associated Press revelada nesta sexta-feira conta a história de 13 antigas ginastas norte-americanas e três treinadores que revelam os duros bastidores das equipas de ginástica dos Estados Unidos.

Treinos forçados com ossos partidos, abusos verbais e emocionais eram práticas “tacitamente aprovadas pelo órgão governamental do desporto”, e institucionalizadas pela dupla de treinadores Bela e Martha Karolyi, revela a AP. O casal Karolyi, marido e mulher, foram responsáveis pelo treino das principais ginastas femininas dos EUA nos últimos 30 anos.

As ginastas concordaram em falar com a AP, algumas pela primeira vez, inspiradas pelas recentes revelações em tribunal sobre os abusos do médico da equipa de ginástica dos Estados Unidos, Larry Nassar. O médico norte-americano foi condenado por abusos sexuais de pelo menos 265 jovens atletas, incluindo menores, cometidos durante décadas, sob o pretexto de constituírem “tratamentos médicos”.

Explicam as testemunhas ouvidas pela Associated Press que o estilo opressivo dos Karolyi criou um ambiente “tóxico” que acabou por originar condições para que um predador como Nassar conseguisse prosperar, explicam as testemunhas. Existia um clima de receio em desafiar a autoridade.

"Ele [Larry Nassar] era o boneco deles [do casal Karoly]", disse Jeanette Antolin, uma antiga ginasta da selecção nacional dos EUA, que treinou com os Karolyi. "Ele deixou-nos treinar com ferimentos. Eles conseguiram o que queriam. E ele conseguiu o que queria."

As jovens passavam fome, eram constantemente envergonhadas fisicamente e obrigadas a treinar com ossos partidos e outros ferimentos. A alimentação e treino a que eram sujeitas adiou a entrada na puberdade. Além disso, quando tinham o primeiro ciclo menstrual eram alvo de chacota pelos seus treinadores. O mesmo acontecia quando começavam a usar sutiã.

A equipa de ginástica norte-americana recusou responder às perguntas da AP. 

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