Ex-presidente do Leixões diz que estava a falar de camisolas, não de comprar adversários

Começaram a ser julgados 27 arguidos da Operação Jogo Duplo. Jogadores remeteram-se ao silêncio.

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O ex-presidente da SAD do Leixões Carlos Oliveira disse esta quinta-feira que foi mal interpretado quando foi escutado pela Polícia Judiciária a falar ao telemóvel daquilo que seria a compra de jogadores de um clube rival, o Oliveirense, para que perdessem um jogo.

Acusado de estar envolvido num esquema que terá funcionado pelo menos entre 2015 e 2016 em vários clubes da segunda liga, e que passava ainda por combinar resultados dos jogos de futebol para ganhar dinheiro com apostas feitas em vários pontos do planeta – o chamado match fixing -, Carlos Oliveira negou as acusações de corrupção activa que impendem sobre ele. Nas vésperas de um jogo com o Oliveirense, em 13 de Maio de 2016, o presidente da SAD do Leixões foi apanhado a perguntar ao director técnico do clube, o agora também arguido Nuno Silva: “O gajo já deu boas novidades?”

Conjugando esta conversa com outras entre Nuno Silva e outros homens ligados às competições de futebol da segunda liga, nas quais Carlos Oliveira é mencionado, o Ministério Público concluiu que o presidente da SAD do Leixões tinha em curso uma operação para impedir o seu clube de descer de divisão, o que estava quase a suceder, e que passava por pagar a alguns dos jogadores do Oliveirense para perderem. Mas Carlos Oliveira apresenta uma explicação muito diferente: diz que o Leixões tinha de jogar com equipamento branco e que a empresa espanhola que o fornecia estava a atrasar-se na sua entrega. Era isso que o preocupava, assegurou, a cor com que os jogadores iam estar vestidos em campo dali a dois dias. O "gajo", alega, era o representante da empresa em Portugal, e não um intermediário que iria fazer os pagamentos aos jogadores do clube rival.

No domingo seguinte o Leixões acabou, de facto, por ganhar ao Oliveirense. As duas equipas estavam empatadas, mas um golo de última hora deu-lhe a vitória, impedindo a descida de divisão. O ex-presidente da SAD assegura que tudo o que fez para que isso acontecesse foi legítimo: prometeu prémios aos jogadores do Leixões que variavam entre os 750 e os mil euros – nalguns casos superavam o seu ordenado mensal – e introduziu uma psicóloga no balneário, para desenvolver “acções motivacionais”. Chegaram a ser feitos vídeos em que participavam as famílias dos jogadores, contou Carlos Oliveira.

O ex-presidente da SAD diz nunca ter falado do problema da cor das camisolas com a equipa técnica do clube, por não fazer sentido apresentar-lhe questões logísticas: “As reuniões da equipa técnica eram uma coisa mais tipo macumba.”

O caso Jogo Duplo, como ficou conhecido este processo judicial, conta com 27 arguidos. Quase todos eles são futebolistas, tendo-se recusado a prestar declarações esta quinta-feira no tribunal do Campus da Justiça, em Lisboa.

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