Cereais com a menor área cultivada dos últimos 100 anos

Falta de precipitação dos últimos meses agravou uma situação que se vem a sentir há cinco anos em Portugal: voltou a cair a área dedicada a cereais de Inverno, como o trigo, centeio e cevada. O olival também sentiu a falta da água

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Daniel Rocha

"Pelo quinto ano consecutivo", no que toca aos cereais de Outono/Inverno, houve uma "diminuição da área instalada, prevendo-se que nesta campanha se atinja o mínimo histórico de 122 mil hectares, a menor área dos últimos cem anos (desde que existem registos sistemáticos)" em Portugal, avança o Instituto Nacional de Estatística (INE) esta terça-feira, 20 de Fevereiro. 

Nas Previsões Agrícolas (com dados de fecho de Janeiro de 2018) hoje divulgadas, o INE recorda que a "instalação dos cereais de Outono/Inverno decorreu em pleno período de seca meteorológica e com perspectivas de manutenção do quadro de escassez de precipitação, com teores de humidade dois solos muito baixos".

Em consequência, segundo o INE, os dados previsionais para 2018, nesta altura do ano, apontam para uma área de 122 mil hectares, menos 8,27% do que a área provisória estimada em 2017. Segundo os dados que constam no quadro hoje apresentado nas Previsões Agrícolas, por cereal, a redução de área é maior no triticale (que resulta de cruzamento artificial do trigo e centeio), de 10,5%, para 17 mil hectares, seguindo-se o trigo mole (menos 10%, para 27 mil hectares), a cevada (menos 10%, para 18 mil hectares) e a aveia (menos 4,76%, para 40 mil hectares). A área de trigo duro (quatro mil hectares) e centeio (16 mil hectares) ficou igual ao verificado há um ano.

Em resumo, "as actuais previsões reflectem uma redução de área, pelo quinto ano consecutivo, e posicionam a campanha de cereais de pragana como a pior dos últimos 100 anos". Ao olhar para o gráfico que o INE apresenta dos últimos 100 anos, é fácil ver o pico de 1958 - pleno da campanha cerealífera no país - , com a superfície de cereais de Outono/Inverno a tocar os 1,6 milhões de hectares, e a começar a sua queda histórica, só momentaneamente travada nos finais das décadas de 70 (mais de um milhão de hectares) e 80 (já na casa dos 900 mil hectares).

Desde a última década do século passado, a área cultivada de cereais de Inverno não pára de recuar no país, a que não é alheia a aceleração da integração da agricultura portuguesa no quadro da Política Agrícola Comum (PAC) da (hoje) União Europeia - quer numa lógica de concorrência entre Estados-membros (uma vez que alguns têm custos muito menores para uma produção muito mais elevada de cereais); quer numa lógica de opções políticas nacionais, com os últimos programas de apoio ao investimento a privilegiar claramente a vinha, o azeite e as hortofrutícolas, com um perfil mais exportador.

Desde o arranque deste século que a superfície deste tipo de cereais não sobe acima de 300 mil hectares em Portugal, segundo os dados do INE, nem mesmo na última crise de matérias-primas agrícolas, quando em 2018 os preços dos cereais atingiram máximos históricos nos mercados internacionais.

A falta de precipitação, continua o INE, afectou também a "instalação de forragens [pasto para os animais]". As "baixas temperaturas e a escassa precipitação conduziram a um abrandamento no desenvolvimento vegetativo dos prados, pastagens e culturas forrageiras" e levou a "uma disponibilização de matéria verde" que foi "inferior ao normal", "obrigando a uma antecipação do consumo de alimentos conservados e concentrados".  

Segundo o INE, "a grande maioria das explorações agro-pecuárias já esgotou as reservas de palhas e fenos, prevendo-se que tenham de continuar a recorrer a alimentos adquiridos".

Rega mais que compensa falta de chuva

No caso da produção oleícola, o INE afirma que nos "olivais de sequeiro, que ainda representam três quartos da área total" da cultura no país, "a situação meteorológica não permitiu o desenvolvimento de toda a carga de azeitonas, registando-se a queda precoce" ou não desenvolvimento total dos frutos ainda nos ramos.

A estimativa do INE é, contudo, para que no olival para azeite do país, globalmente, haja uma "produção de azeitona 25% superior à da campanha anterior e 11% acima da média do último quinquénio". Isto porque nos olivais regados "verificou-se uma maturação de grande parte dos frutos" que, em lagar, apresentaram "um conteúdo de gordura superior ao normal".

O INE estima assim que, face a 2016, em que a produção de azeitona para azeite foi de 476 mil toneladas, os níveis de 2017 tenham ascendido a 595 mil toneladas.

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