A ver se voltas

O aeroporto de Lisboa está melhor, desde a facilidade com que vêm buscar o carro para o estacionarem a 10 minutos dali por 5 euros por dia, até à maneira cordata mas eficaz do pessoal que lá trabalha. Sente-se logo vontade de voltar.

Sempre que saio de Portugal – ou volto para Portugal – o país pôe-se ainda mais bonito do que já é, como se estivesse a avisar-me que é aqui que pertenço – e a mostrar-me o que perco.

Foi na manhã de segunda-feira, depois de uma noite de chuva. O sol nascia como se tivesse conseguido fugir, como se tivesse estado preso e só naquele momento se pudesse exprimir, a grande estrela do céu, a brilhar-me pela frente, quase a cegar-nos, a fazer-nos andar devagarinho, com medo de mergulharmos nas trevas.

Depois nunca se sabe o que vai acontecer quando estamos fora. Se o avião cair como é que sei se restará algum fragmento de mim que desse para enterrar em Portugal?

Mesmo havendo não teria graça nenhuma voltar para Portugal sem estar vivo. Dizem maldosamente que as companhias aéreas, quando vai haver uma aterragem de emergência, dizem-nos para agarrar os joelhos e enterrar a cabeça nas coxas para melhor preservarmos as dentaduras quando morremos, para sermos mais fáceis de identificar quando formos obliterados e garantirmos enterros com uma margem aceitável de erro.

O aeroporto de Lisboa está melhor, desde a facilidade com que vêm buscar o carro para o estacionarem a dez minutos dali por cinco euros por dia, até à maneira cordata mas eficaz do pessoal que lá trabalha. Sente-se logo vontade de voltar.

Não será altura de ressuscitar o velho hábito saloio de vir passar um dia no aeroporto a ver os aviões a aterrar e a levantar vôo, enquanto se comem umas ostras e se bebe uma garrafa de Chablis na chiquíssima Hediard?

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