Vento offshore: um valioso recurso energético

O que começou como um projecto de investigação é hoje mais competitivo que a energia nuclear.

Vindeby, o primeiro parque eólico offshore da História, construído em 1991 ao largo da Dinamarca, foi recentemente encerrado, marcando o fim da sua vida útil. Nos 25 anos que decorreram desde a sua construção, a tecnologia associada a esta forma de produção de energia sofreu uma evolução extraordinária. O que começou fundamentalmente como um projecto de investigação, uma tecnologia de nicho com custos de produção de energia elevadíssimos e altamente subsidiados, é hoje, nos mercados amadurecidos, mais competitiva que a energia nuclear e cada vez mais perto de se tornar independente de subsídios públicos.

A evolução tecnológica e industrial nestes 25 anos é notável. As turbinas usadas atualmente são 20 vezes mais potentes, passou-se de 0,450 MW para 9 MW, sendo certo que o crescimento de potência vai continuar no futuro próximo. A capacidade dos parques eólicos aumentou num factor de 600, desde o primeiro parque até aos parques actuais. A título de exemplo, um dos maiores parques actualmente em construção, Hornsea, na costa leste do Reino Unido, tem uma capacidade de 2600 MW, com possibilidade de se expandir ainda mais. Para se ter uma ideia da escala, a totalidade de capacidade das eólicas em Portugal é ligeiramente superior a 5000 MW, equivalente a somente dois parques eólicos offshore da dimensão de Hornsea.

Vários fatores tornam esta forma de produção de energia atractiva para governos e países, a começar pelo facto de o vento ser um recurso renovável, inesgotável e não poluente, ao contrário do carvão, gás natural ou nuclear. O eólico offshore tem ainda vantagens relativamente a outras renováveis; não ocupa solos, não tem impactos nas populações, paisagem e fauna locais como as eólicas em terra, ou como o caso das barragens, que alteram significativamente o meio físico local. Mesmo a energia solar, apesar de ter uma pegada à primeira vista inócua, necessita de grandes áreas para produção de energia em escala relevante, cativando o uso de solos que poderiam ser interessantes para outros usos. Ao contrário, as eólicas no mar poderão até, em alguns casos, registar um impacto positivo na fauna piscícola, devido à introdução de habitats artificiais. É necessário, no entanto, acautelar a existência de zonas de pesca, uma vez que essa actividade é geralmente interdita dentro dos parques. O impacto mais relevante sentido pelas populações próximas é seguramente a criação de emprego na operação e manutenção destes parques eólicos.

Esta indústria, com produtos e serviços de alto valor acrescentado, emprego em regra qualificado e bem remunerado, encontra-se espalhada por diversos países, especialmente no norte da Europa, sendo comum encontrar fornecedores provenientes da Dinamarca, Suécia, Alemanha, Reino Unido, Bélgica, Holanda e Polónia, na construção de um parque eólico offshore. Trata-se de uma indústria que nasceu e cresceu na Europa e para a Europa, com muito investimento de retorno incerto e a longo prazo, que após naturais dores de crescimento está agora a penetrar em outras regiões do mundo, com excelentes proveitos para as empresas e países que tiveram a audácia de serem pioneiras.

Novas empresas e postos de trabalho surgiram com esta indústria, mas também muitas empresas se converteram para fornecer este novo mercado. Um exemplo curioso é o de um dos maiores fabricantes mundiais de turbinas, que começou por ser fabricante de equipamentos de cozinha. De igual modo, várias empresas e regiões ligadas à construção naval encontraram nesta industria a oportunidade que necessitavam, depois da vaga de deslocalização para a Ásia.

Vinte e cinco anos depois de tudo começar, no mar do Norte ao largo da Dinamarca, países como Taiwan, China e Estados Unidos estão agora a iniciar a construção de parques eólicos offshore. Outros, como o Japão, Austrália ou Canadá, estão a seguir o mesmo caminho. Eventualmente o mercado estender-se-á a um grande número de países e continentes com mar e vento. Os países e empresas que investiram durante estes anos em investigação e desenvolvimento já estão a colher os frutos da aposta, através do fornecimento de produtos e serviços para outros mercados. Portugal tem também uma experiência piloto a seguir com interesse, com uma turbina instalada usando uma inovadora estrutura flutuante.

Grande parte do sucesso desta nova forma de produção de energia é explicado, pelo menos parcialmente, pelos ganhos de escala dos equipamentos, impossíveis de replicar em eólicas em terra firme. As turbinas offshore não têm grandes restrições logísticas de tamanho ou potência, o que leva ao desenvolvimento de equipamentos com pás de diâmetro superior a 150m, impossíveis de transportar em terra mas com custos de instalação muito interessantes no mar. Igualmente estruturas ou equipamentos com pesos de 1000 toneladas são transportados sem qualquer dificuldade em navio.

Também relativamente ao uso do espaço existem vantagens, já que os parques offshore podem ocupar extensões de mar enormes, resultando em parques offshore com mais de uma centena de turbinas, distribuídas de forma a optimizar a produção de energia. É possível encontrar áreas de implantação com centenas de km2 com impactes pouco significativos em rotas de navegação ou de migração de aves. Igualmente importante, o vento offshore é em geral de melhor qualidade para produção de energia do que o vento em terra.

Trata-se de uma indústria que passou com sucesso a infância, com um desenvolvimento notável e que ainda hoje não conhece os limites de crescimento de produção de energia e otimização de custos. Os engenheiros e cientistas que fizeram nascer esta nova forma de produção de energia, muitos dos quais ainda se encontram no activo, talvez não acreditassem se lhes dissessem, nesses tempos, que o futuro demonstraria de forma cabal a razão de ser do seu esforço.

No futuro próximo seremos obrigados a substituir o consumo de combustíveis fósseis e parar a emissão de poluentes que estão a destruir o ambiente, se queremos deixar um planeta habitável para gerações futuras. Encerrar centrais de carvão, trocar os nossos carros a gasolina por carros eléctricos ou outros meios de transporte sustentáveis, entre outras medidas, irão acontecer muito em breve. Isto exige naturalmente mais produção de energia eléctrica a partir de fontes renováveis, e será a causa maior do crescimento do vento offshore nas zonas costeiras, brevemente em muitas regiões do planeta e não só na Europa do Norte.

O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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