Presidente dissolve parlamento e anuncia eleições antecipadas

Decisão foi saudada pelos dirigentes partidários

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Francisco Guterres Lu-Olo anunciou a sua decisão no Palácio Presidencial em Díli, numa declaração transmitida em directo pelas televisões Reuters/LIRIO DA FONSECA

O Presidente timorense anunciou nesta sexta-feira a dissolução do Parlamento e a convocatória de eleições antecipadas como solução para resolver o impasse político no país.

A decisão foi saudada pelos principais dirigentes partidários.

"É uma decisão que vai ajudar a resolver os problemas, penso eu. Mas espero que seja uma decisão que abra caminho para um novo clima de entendimento", disse à Lusa o primeiro-ministro, Mari Alkatiri, que é também secretário-geral da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin).

"Ninguém deveria estar a governar sozinho, nem pretender governar contra o sentido do voto", disse depois de ouvir, no Palácio Presidencial, o anúncio pelo Presidente, Francisco Guterres Lu-Olo, da sua decisão.

Questionado sobre o facto de alguns questionarem a independência do chefe de Estado - que é presidente da Fretilin -, Alkatiri disse que os críticos da decisão "têm consciência de que houve bloqueio ao exercício do poder político".

Também Mariano Sabino, líder do Partido Democrático (PD, parceiro da Fretilin no Governo), saudou a decisão, garantindo que o executivo governará em defesa da nação até ao voto e criticando os que vêem a democracia apenas como uma questão numérica.

"É uma situação difícil para Timor-Leste e para o Governo e para todos os timorenses, mas os timorenses têm que responder ao desafio", afirmou.

"Quando há insultos a pessoas é anti-democrático, quando se utiliza a democracia apenas em termos numéricos é anti-democrático. A democracia não é só números, é princípio e atitude, é compromisso: o compromisso do povo na eleição compromete a existência do partido e quando o partido nega esse compromisso ao povo, a existência do partido acabou", disse.

Do lado da oposição, os principais partidos dizem que a decisão era esperada, tendo Adérito Hugo da Costa, ex-presidente do Parlamento Nacional, e actual deputado do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT) afirmado que o partido está preparado.

"Não estou desapontado. Estamos preparados para qualquer decisão, incluindo eleição antecipada", disse à Lusa, escusando-se a confirmar se a oposição concorrerá com uma aliança pré-eleitoral.

"Depois desta decisão vamos ver a nossa posição para definir a forma como vamos participar nas próximas eleições. A máquina do partido está pronta, antes das eleições, depois das eleições, e continua a reorganizar-se para participar nas eleições", disse.

Fidelis Magalhães, líder da bancada do Partido Libertação Popular (PLP), disse à Lusa que esta decisão já era esperada. "Tínhamos previsto que a decisão ia ser a convocação de eleição antecipada. Continuaremos a lutar, a defender os princípios e valores democráticos e a Constituição. Estamos prontos. Pelo menos há uma decisão do Presidente", afirmou.

Lere Anan Timur, comandante das Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL), considera a decisão do chefe de Estado "inteligente", permitindo resolver o impasse que se arrastava há algum tempo.

"Penso que é uma boa decisão. Uma decisão inteligente. O poder é do povo e se os líderes dirigentes da nação não se entendem, então é bom regressar ao povo para eles decidirem. É a melhor decisão", afirmou.

Também o líder da Conferência Episcopal Timorense, o bispo Basílio do Nascimento, saudou a decisão, que considerou ser a "menos chocante" para a população. "Nós os timorenses temos feridas que ainda não foram saradas e tirar [o Governo] de um para dar ao outro? Ouvindo os sentimentos das pessoas penso que é a porta mais equilibrada e menos dolorosa", disse.

Manifestando-se esperançado que os líderes políticos ouçam o povo, Basílio do Nascimento reconheceu o risco de a situação ter desmotivado a população a participar no acto eleitoral.

"Nestes 15 anos o povo timorense foi chamado a aprender rapidamente a viver em democracia, uma vez que em 15 anos, aquilo que acontece nas democracias mais desenvolvidas aconteceu em Timor-Leste. Desde as crises, até agora é a primeira vez na história que temos a dissolução do parlamento. É uma boa lição para o povo timorense", disse.

Reaçcões positivas também dos pequenos partidos, com Gilman dos Santos, (União Democrática Timorense) a considerar que "foi uma decisão boa".

Com mais quatro partidos, explicou, a UDT vai apresentar ao voto numa coligação de partidos, a Frente de Desenvolvimento Democrático.

"Vamos trabalhar e estamos prontos para competir nas eleições", disse.

Oscar Lima, responsável da Câmara de Comércio e Indústria, também saudou o facto de a decisão ter sido tomada, defendendo que não se "podia demorar mais".

"Esta é uma decisão que tinha que ser tomada. Gostem ou não gostem. O Presidente da República tem que ter a sua competência e capacidade pessoal para resolver o impasse que temos. É uma decisão que é boa porque devolve ao povo para decidir", afirmou.

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