T-Roc: um SUV português com pais alemães

É o primeiro veículo de grande volume fabricado na portuguesa Auto Europa, que até agora só produzia viaturas para nichos de mercado. Experimentámo-lo num passeio pela planície alentejana.

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Rui Gaudêncio

O Volkswagen T-Roc, um SUV compacto, é o terceiro veículo em importância da extensa gama Volkswagen, apenas superado pelos Golf e Polo. Produzido em Palmela, na Auto Europa, esta viatura portuguesa vem completar a oferta SUV do fabricante alemão, que já incluía dois modelos: o médio Tiguan e o luxuoso e grande Touareg. Conduzimos a versão com motor turbo 1.0 TSI tricilíndrico com 115cv e nível de equipamento Style, cujo preço-base é €25.651.

As outras duas propostas deste SUV são o nível de entrada, com o mesmo motor mas menos bem equipado, a partir de €23.659, o 1.5 TSI a gasolina com 150cv (desde €29.087) e, num patamar muito acima, o T-Roc Sport, com motor 2.0 diesel de 150cv, caixa automática de 7 relações e tracção integral, que custa sem extras €44.459. A oferta de motorizações completa-se com um propulsor a gasolina e 2.0 TSI com 190cv (só por encomenda) e, em Março, mais dois a gasóleo — 1.6 TDI com 115cc (preço estimado, desde €27.243) e 2.0 TDI com 190cv (idem, €48.283).

É previsível que a versão que conduzimos venha a ser a mais vendida, até porque o equipamento, bastante completo, compensa largamente a diferença de preço face à de entrada e as outras propostas são mais caras. Primeira impressão positiva: sob uma mala de 445 litros de fácil acesso e contornos regulares, esconde-se um pneu sobresselente (e há ainda espaço para guardar pequenos objectos). O rebatimento dos bancos traseiros aumenta a capacidade para 1290 litros e cria um fundo plano.

O habitáculo é espaçoso, com dois bancos confortáveis e envolventes à frente e lugar para três pessoas atrás. Predominam os plásticos rijos, mas a construção merece boa nota, não se notando ruídos, mesmo em pisos irregulares. Segunda impressão positiva: o painel de instrumentos é muito funcional, intuitivo e completo, o volante tem bom tacto e o T-Roc é daqueles veículos que, pela resposta da direcção e facilidade de condução, após os primeiros quilómetros já nos faz sentir completamente à vontade.

Sendo um SUV, isso não lhe tolhe a estabilidade em curva e a boa brecagem, sem prejuízo do conforto que proporciona. O único senão é a visibilidade através do óculo traseiro.

Confortavelmente sentados atrás do volante, fazemo-nos à estrada, revisitando o Alentejo, onde, nesta época, já predomina o verde, substituindo o castanho do sequioso Outono. O verde irá atingir todo o seu esplendor em Abril, sendo depois substituído pelo dourado estival, a terceira estação do ano alentejano, em termos cromáticos. A seca parece ter sido há séculos e o Guadiana vai cheio, sem semelhanças com o ribeiro enfezado que a custo corria em Novembro.

A paisagem convida à tranquilidade e o T-Roc desliza pela auto-estrada numa condução suave dentro dos limites de velocidade. Mas andar em auto-estrada é quase como viajar de avião — é óptimo para ir de um ponto a outro, mas perde-se a paisagem intermédia. Saímos por isso da auto-estrada e temos o primeiro choque: o computador de bordo marca uma média de 8,9 l/100km e o depósito está a meio — consumos muito acima do anunciado, mais próprios de um desportivo que o T-Roc não é.

A herança de Júlia Vinagre

Está na hora do almoço e rumamos à vila raiana da Terrugem, que alberga um dos santuários da gastronomia alentejana — o restaurante Bolota, uma criação da já falecida Júlia Vinagre, grã-sacerdotisa da cozinha alentejana. Os seus sucessores mantiveram a tradição e continua a valer a pena o desvio para visitar este templo de boa cozinha. São propostos dois menus com preço fixo por pessoa — um mais comedido a 20€ e outro de degustação, para “pesos-pesados”, por 27,50€. Porém, em vez disso, optámos por escolher de uma lista bem recheada — que inclui pratos de porco preto, javali, perdiz, codorniz, etc. — o cozido de grão no tarro ((um tradicional cozido alentejano com grão de bico, feijão verde, carne e enchidos, que os trabalhadores rurais levavam de casa para o almoço num recipiente de cortiça, o tarro, para o conservar). Confecção impecável, carnes e vegetais de primeiríssima qualidade. Rematámos a refeição com um sortido de doces alentejanos.

Confortados com todos os sacramentos gastronómicos, iniciamos a viagem de retorno, desta vez abandonando a auto-estrada. E o consumo começa a descer. Mais surpreendente é o facto de, em trajectos urbanos posteriores, se manter a redução dos consumos — não sendo um híbrido, o T-Roc com o motor tricilíndrico 1.0 a gasolina comporta-se como tal, mais económico em cidade que em auto-estrada: a média final baixou para 7,4 l/km e é possível, em cidade, não ultrapassarmos os 7,0 l/100km.

Para reforçar as suas características de SUV urbano, o sistema Start/Stop tem funcionamento impecável e o auxílio ao arranque em subida é uma referência. Confesso que, em carros com caixa manual, prefiro o travão de mão ao travão electrónico, que, em paragens em subida, obriga muitas vezes a um jogo de pés para evitar que o veículo descaia. Porém, o SUV de Palmela, com uma bem escalonada caixa manual de 6 velocidades de fácil manuseio, comporta-se como se tivesse caixa automática — mesmo em aclives mais íngremes, a viatura não descai um milímetro. Em recuperações e ultrapassagens, não sendo um desportivo, os 115cv proporcionam um desempenho satisfatório.

Junte-se uma altura ao solo de 1610mm, um diâmetro de viragem entre paredes de 11,1m, sistemas de navegação, de auxílio ao estacionamento com sensores à frente e atrás (uma parte do muito completo equipamento de série do T-Roc no nível Style) e temos um veículo que, também graças às suas dimensões comedidas (4234mm de comprimento, 1819mm de largura e 1573mm de altura), está como peixe na água nos mares urbanos. Porém, fora de estrada só consegue nadar em águas muito rasas e tranquilas… Para outras aventuras, há o T-Roc diesel com tracção integral.

Outro ponto muito positivo foi a pontuação máxima de 5 estrelas obtida em testes conduzidos em 2017 pela entidade avaliadora da segurança dos novos veículos à venda na Europa, o Euro NCAP, com 96% na protecção dos ocupantes adultos, 87% nas crianças, 79% na protecção de peões e 71% nos dispositivos auxiliares de segurança.

Nada despiciendo é também o facto de o T-Roc ser classe 1 nas portagens.

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