Air Lino: excursões low cost, aldrabões adoráveis e Portugal no autocarro

Rui Unas e Dânia Neto são os cicerones da nova série de comédia da RTP, cheia de excursionistas idosos, produtos esdrúxulos e histórias de descoberta. Tudo começou com uma colecção de folhetos.

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Durante anos, o argumentista Mário Botequilha criou uma colecção de sonhos construídos em torno do Mosteiro da Batalha ou dos ares venezianos de Aveiro. Aquelas excursões que prometem viagens low cost e que escondem compromissos publicitários com produtos esdrúxulos à venda no autocarro ou numa paragem para o farnel? As Air Lino Excursões são o sonho de Lino, aliás Rui Unas, escrito por Botequilha e Filipe Homem Fonseca como se num daqueles folhetos que mostram “um surreal rural”, uma comédia sobre dignos idosos, revolucionárias pechinchas e adoráveis aldrabões. É também a vigésima série da RTP desde que, nos últimos dois anos, se virou para a produção deste formato de forma regular.

“É uma imagem idílica que criei, porque nunca fiz uma destas excursões”, admite Mário Botequilha sobre o seu fascínio por estas viagens “tudo incluído” que partiam, nas últimas décadas, de praças e paragens das cidades do país rumo a monumentos, festas ou paisagens carregadas do seu público-alvo, os mais velhos e os mais disponíveis. “Ao longo dos anos iam-me depositando folhetos na caixa de correio e criei uma colecção de 100, 200 folhetos. Fui criando um mundo à volta daquilo”, explica ao PÚBLICO. Em 2015, trouxe Homem Fonseca a bordo para aquela que viria a ser a sua quarta série escrita em conjunto.

Esta quarta-feira às 21h, o primeiro de 13 episódios da Air Lino Excursões estreia-se na RTP1 – a forte concorrência do derby Benfica-Sporting tenta contornar-se com a disponibilização online de cada episódio, logo às 12h, no RTP Play. Um grupo de excursionistas regulares (Natália de Sousa, Vera Mónica, José Eduardo, Alfredo Brito, Ângela Pinto, Orlando Costa, Cândido Ferreira) e alguns convidados especiais como Joel Branco são levados a cenários tão díspares quanto a aula de surf na praia ou um magusto, para poderem comprar produtos tão revolucionários como óculos de visão nocturna ou serviços de chá sem par. À cabeça estão Rui Unas, ou o Lino das Excursões, cujo sonho é comprar a TAP (sem spoilers quanto ao porquê dessa megalomania), e a Anita de Dânia Neto.

“Não é um retrato real”, esclarece Filipe Homem Fonseca, mas está preenchido pelos temas desta realidade – a solidão, a pequenez, a aventura, a tragicomédia. “Enlouquecemos rapidamente, como acontece muitas vezes quando trabalhamos juntos”, ri-se sobre o trabalho com Mário Botequilha, com quem já assinara as séries Bocage, Dia do Regicídio e Viver É Fácil. A série parte desse microcosmo para contar a descoberta das personagens, todas a recomeçar, de alguma forma, as suas vidas. Ainda assim, parece inevitável que haja comentário social sobre este fenómeno, esta pequena indústria “em que a pessoa paga menos pela viagem, porque tem de ouvir as vendas que faz a empresa que organiza a viagem”, como descreve Mário Botequilha, e que tem como alvo os mais solitários, os mais desocupados, os menos abastados.

Essa reflexão “é inerente” à série, uma comédia que procura a emoção nos contrapontos dramáticos, defende o argumentista. “Nunca perdemos de vista que há uma pincelada de alegrias e de angústias”, explica, defendendo que as personagens ao centro, os idosos, têm “densidade”, “personalidade”, “dignidade” — “sem estereótipos”. “Não há um interesse pedagógico nem moralista, são só verdades”, diz Filipe Homem Fonseca. De Marco Paulo ao Quarteto 1111, a banda sonora embala estas viagens. Rui Unas também nunca fez uma destas excursões, mas sobre a dimensão social desta história resume: “Fiquei com a clara sensação de que para os clientes deste serviço os fins justificam os meios. Se há um pretexto para se divertirem, conviverem, saírem de casa… Cantam-lhes a canção do bandido, mas passam o dia fora do sofá e das chamadas de valor acrescentado da TV. No fundo, ficam sempre a ganhar.”

Unas, apresentador há anos tornado actor, foi beber ao “imaginário popular” para construir a sua personagem, que Homem Fonseca descreve como “um aldrabilhas de primeira”. E Rui Unas confirma – “existem Linos”, os fura-vidas e os vígaros com o colorido que tanto encanta os guionistas destas viagens low cost, que na verdade precedem o próprio termo low cost. Considera a “premissa muito engraçada, muito portuguesa”. “É uma série on the road, e num episódio vamos a Leiria a zonas que já não estão como as filmámos, verdes.” Entretanto, os incêndios levaram-nas.

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