Espalhar boa vontade é tão fácil como difundir calor

Heat The Street é o evento que pretende inspirar a população a aquecer quem mais precisa. Sílvia Lopes e Helena Carvalho partilharam a filosofia por detrás da iniciativa

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Helena Carvalho e Sílvia Lopes, fundadoras do Heat the Street Nuno Ferreira Santos

É na sexta-feira dia 22, que chega a Lisboa pelo terceiro ano consecutivo a iniciativa que pretende aquecer o coração lisboeta por meio de agasalhos, através do espirito próprio da época do ano.  

Entre as 17h e as 24h será pendurada uma corda com comprimento de 300 metros na Avenida da Liberdade, desde o Hard Rock Café até à Rua das Pretas, que desafiará os lisboetas a doar casacos e as mais variadas peças de roupa que ali ficam expostos. A ideia é que qualquer um possa depois dirigir-se ao estendal e recolher a peça de roupa que mais faz falta e mais se encaixa nas suas necessidades.

O projecto solidário chegou a Portugal pela mão de Sílvia Lopes, uma profissional da área da comunicação que viveu fora do país alguns anos, período no qual trabalhou numa ONG no Camboja. Aqui utilizava a sua área de formação para movimentar pessoas para uma causa, algo que mais tarde a motivou a criar o movimento Heat The Street.

“Voltei para Portugal há dois anos e meio e por causa do meu trabalho desenvolvido no Camboja uma amiga desafiou-me, depois de ver uma imagem viral de blusões pendurados na rua no Canadá, a fazer algo semelhante em Lisboa” conta Sílvia. O que começou como uma iniciativa de amigos em 2015, com o intuito de criar uma onda de solidariedade que pudesse realizada a qualquer altura do ano, cresceu para algo maior rapidamente.

A forte adesão nas redes sociais foi encorajadora e por isso foi de bom grado que Helena Carvalho, colega de faculdade de Sílvia, decidiu juntar-se ao movimento, tirando partido dos seus conhecimentos adquiridos em Bruxelas em Direitos Humanos e Estudos Europeus. Esta parceria veio moldar o evento para algo mais sólido chegando mesmo a transformá-lo numa causa.

“É muito recompensador. Por um lado tentamos dar às pessoas a opção de escolha, ao invés de ficarem apenas com o que lhes dão, tal como temos quando vamos a uma loja”, explica Helena,que é prontamente complementada pela amiga. “Por outro conseguimos inspirar as pessoas a gerar boa energia; para nós o calor é boa energia”, acrescenta Sílvia com um sorriso.

Este ano, “A corda mais quente, Lisboa” refere-se à corda física que será colocada na Avenida da Liberdade, com a qual se fará a recolha de peças de roupa para aquecer, mas faz também trocadilho com todos aqueles que vão acordar mais quentes no dia seguinte, depois de beneficiarem da acção.

A curiosidade pelo fenómeno foi também imediata, quase tão rápida como a difusão de calor. “Temos várias pessoas que já manifestaram o desejo de replicar o evento, incluindo duas amigas do Norte”, informa Sílvia com orgulho.

Não viver na capital deixou de ser uma barreira à participação no evento, que começou a ser copiado em Setúbal, Faro, Gaia e Porto. Qualquer benfeitor que deseje fazer parte em qualquer canto do país apenas tem que imprimir a etiqueta fornecida na página do Facebook, com o texto "Estou aqui para ti. Se estás na rua com frio, leva-me contigo para te aquecer" e colocá-la na peça de roupa, pendurando a mesma em qualquer parte da cidade.

Para as criadoras, a ideia futura passa por desenhar um documento com algumas linhas mestras para que o evento possa ser replicado uniformemente, passando a mensagem do Heat The Street. Este documento apenas pode ser criado no final da época festiva já que o crescimento exponencial do evento deixou Sílvia e Helena sem mãos a medir já que ambas trabalham a tempo inteiro.

“O nosso sonho seria mesmo dedicar-nos a tempo inteiro ao Heat The Street mas de momento é impossível”, diz Sílvia. “Não somos uma organização, somos duas pessoas que criaram um movimento. Temos muitas ideias e é preciso determinação, coragem e tempo para por isto em prática. Falta-nos a última.”

Enquanto esperam por uma oportunidade de tornar o que cultivaram em algo maior, ambas concordam que a multiplicação de boa vontade tem sido a mensagem a reter de toda a experiência e a razão pela qual têm tanto gosto em organizar o evento e vê-lo crescer.

O “A corda mais quente, Lisboa”, que decorre sexta-feira, será ainda complementando com a distribuição de chá quente e, para assegurar que nenhum casaco fica esquecido, as doações que permanecerem na corda até ao final da noite serão recolhidos pela Associação de Intervenção Comunitária Crescer, cuja missão é promover a inclusão de pessoas em situação de vulnerabilidade.

Para quem não puder comparecer oferece-se ainda a possibilidade de ajudar doando os bens até ao meio-dia de sexta-feira num de dois pontos-chave: o Café com Calma no Beato e Lena Urban Motorcycles em Santos.

Texto editado por Abel Coentrão

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