Raríssimas. Frequentíssimas. Tecnoforma.

O que se estranha é a guerrilha que o caso Raríssimas abriu em contraste com silêncios gritantes em torno de um caso bem mais grave.

O que sucedeu na Raríssimas, a promiscuidade entre poder político e as instituições ligadas ao sector da economia social, infelizmente não é raro; é a expressão de uma doença grave que afeta a sociedade e instituições da República.

O novo regime criou condições para que os partidos da governança se apropriem através da sua militância e de clientelas de posições nos vários aparelhos do poder central, regional, local e se promovam em instituições que prosperam com subsídios governamentais, apoderando-se, nalguns casos, de bens que são da comunidade.

Além disso, os subsídios provenientes da CEE e agora União Europeia são também objeto de predadores especializados em abocanhá-los e fazerem-nos seus, montantes cujo fim era servirem projetos de desenvolvimento do país.

Na Raríssimas, o que está em causa é a gestão danosa de uma instituição que recebe subsídios do Estado e em que a sua figura cimeira, a avaliar pela reportagem da TVI, assumiu condutas que levantam sérias suspeitas de aproveitamento pessoal de montantes que eram destinados aos serviços da instituição.

Os dirigentes partidários, governamentais e do Estado que se quiseram fotografar ao lado de Paula Costa encheriam páginas. Não foi só Vieira da Silva. Todas e todos a apanhar a boleia de tão ilustre criatura. O nosso beijoqueiro mor não podia fugir aos afetos da Dona Paula e lá foi ao beija-mão. Noblesse oblige.

O que se estranha é a guerrilha que o caso Raríssimas abriu em contraste com silêncios gritantes em torno de um caso bem mais grave. O ataque ao Governo do PS, com apoio parlamentar do BE, PCP e Verdes, assenta no clássico manual da guerra de guerrilhas.

Como o PSD e o CDS não têm capacidade para apresentar uma alternativa ao Governo (o PSD fechou para obras para gáudio do CDS), como até agora todas as previsões adiantadas pelo PSD e CDS esbarraram no muro brutal da realidade em termos do crescimento económico, da diminuição do desemprego e do prestígio de Portugal na UE e no mundo, resolveram enveredar pela guerrilha aproveitando até à náusea certos acontecimentos e certos erros do Governo. Foi assim e está a ser ainda assim com os incêndios, com o furto de Tancos, com o surto de Legionella e agora com a Raríssimas. Esta tática já não é raríssima, passou a ser frequentíssima.

Mas compare-se o alvoroço dos media em torno da passagem dos seis meses dos incêndios de Pedrógão Grande e de Castanheira de Pêra (incluindo na diminuição da obra já realizada pelo Governo e na construção de casas incendiadas) e o escândalo detetado pelo gabinete antifraude da UE (OLAF), que considerou a conduta da Tecnoforma fraudulenta, devendo devolver 6.747.642 euros, de que Passos Coelho foi na ocasião consultor e administrador no reinado de Miguel Relvas, o licenciado sem licenciatura.

Passos Coelho negou e renegou que havia fraude. Até disse, na altura, que desconhecia que tinha de descontar para a segurança social, vejam bem o certinho do homem... A notícia de 17 de novembro do mês passado apareceu e desapareceu como por magia. No entanto, há notícias que são requentadas e servidas até à exaustão.

Vale a pena comparar a guerrilha contra Vieira da Silva por ser vice-presidente da Assembleia Geral da Raríssimas, sendo certo que não há ninguém que não saiba que quer o presidente da Assembleia Geral, quer o vice-presidente, nada têm a ver com a atividade concreta da direção de uma IPPS ou de uma simples associação. Como se o anterior governo não atribuísse àquela instituição os mesmos subsídios. É exatamente guerrilha para aparecer, pois de outro modo não têm projeto a apresentar. O PSD e o CDS especializaram-se em casos. Vivem de e para casos. São um caso sério.

A Raríssimas está no centro do furacão porque é fundamental tapar o que pode ser considerado sucessos do Governo em termos de eleição de Centeno para o Eurogrupo, da retirada da Fitch do lixo no que se refere à divida portuguesa, a queda dos juros, bem como a diminuição da emigração, o aumento do salário mínimo e das reformas e a baixa do desemprego. Em vez de empobrecimento, restituição de rendimentos e direitos.

O que se está a assistir em torno da Raríssimas é uma tática frequentíssima. Os alvoraçados em torno daquela instituição são os mesmos que em relação à Tecnoforma não piam. E Passos Coelho era primeiro-ministro quando o escândalo foi conhecido. Raríssimas um caso. Tecnoforma para esquecer. Frequentíssimo.

O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico   

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