O “anjo louro” perdeu a vida numa brincadeira

Luciano Re Cecconi, herói do primeiro campeonato conquistado pela Lazio, quis pregar uma partida mas o desfecho foi trágico

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sslazio.it

Chamavam-lhe “anjo louro” e não é difícil adivinhar porquê. Teria completado 69 anos no início deste mês, mas Luciano Re Cecconi despediu-se de forma prematura dos relvados e da vida. Herói do primeiro campeonato conquistado pela Lazio, chegou à selecção italiana e integrou a convocatória para o Mundial 1974. Só que no dia 18 de Janeiro de 1977 a tragédia abateu-se sobre o médio de “físico potente e pulmões de aço”, como o recordava o Corriere della Sera.

Re Cecconi destacou-se primeiro no Foggia, emblema ao serviço do qual viveu uma subida ao escalão máximo do futebol italiano. A estreia na Serie A aconteceu em 1970-71 e foi marcante para a carreira do “anjo louro”, treinado nessa época por Tommaso Maestrelli. O técnico a quem chamavam “il Maestro” levá-lo-ia, dois anos depois, quando assumiu o comando da Lazio.

O emblema romano, onde actuava Giorgio Chinaglia – que alguns anos mais tarde iria jogar ao lado de Pelé no New York Cosmos – estava determinado a intrometer-se na luta pelo título, apesar da profunda cisão interna que vivia. “Havia duas facções, mas isso não era um problema, visto que o balneário estava dividido em duas salas. Não era aconselhável enganar-se na porta”, contaria Felice Pulici, guarda-redes da Lazio. “Quase nunca fazíamos treinos físicos ou sessões tácticas, só ‘peladinhas’. Maestrelli provocava-nos, esperava que começássemos a insultar-nos no balneário, depois distribuía os coletes e mandava-nos jogar uns contra os outros. Era violento, muito mais do que no campeonato. Aos domingos parecia que estávamos a fazer jogos amigáveis”, recordaria Luigi Martini, outro elemento do plantel.

Mesmo neste clima, 1973-74 foi uma temporada para a história da Lazio. Os biancocelesti superaram a campeã em título Juventus por dois pontos e conquistaram pela primeira vez o trono do futebol italiano. Re Cecconi, muito elogiado, entrou nas contas da squadra azzurra para o Mundial 1974, embora não tenha disputado qualquer jogo (a Itália seria eliminada logo na fase de grupos).

Só que a tragédia estava à espreita. Durante a época 1974-75 foi detectado um tumor no fígado de Maestrelli, que teve de afastar-se da equipa. O técnico ainda viria a regressar, mas já tinha pouco tempo de vida: morreu a 2 de Dezembro de 1976. Re Cecconi, que alguns meses antes tinha sofrido uma grave lesão no joelho esquerdo, empreendia o longo caminho de recuperação.

Na tarde de 18 de Janeiro de 1977 o “anjo louro” juntou-se ao companheiro Pietro Ghedin e a um outro amigo para irem até uma joalharia. À entrada, Re Cecconi decidiu pregar uma partida ao proprietário, Bruno Tabocchini. De mãos nos bolsos, exclamou: “Isto é um assalto!” Não era a primeira vez que Tabocchini era vítima de roubo, e o primeiro impulso do joalheiro foi pegar na pistola que tinha atrás do balcão e disparar sobre os homens que entravam no estabelecimento. Atingiu Re Cecconi no peito, que apesar de ter sido transportado para o hospital não resistiu. Tinha 28 anos.

* Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos. Ouça também o podcast

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