Sol contra sol

Andam muitos a dizer que perdemos o Outono mas estes dias de Dezembro desmentem-nos.

A tempestade faz apreciar a bonança. E, dentro da bonança, as pessoas que tratam da limpeza das ruas são as mais importantes de todas. O trabalho delas torna-se visível depois da desarrumação cósmica que se instalou enquanto descansavam.

De repente deixa de chatear o barulho que fazem as máquinas de mover folhas caídas. Há uma hora ou duas em que é bonito ver as folhas no chão, enquanto se vê uma e outra a cair. Mas depois passam, quando as folhas começam a invadir o universo. Acontece o mesmo com a neve: as primeiras horas são as melhores, antes da lama e do gelo e da porcaria.

Andam muitos a dizer que perdemos o Outono mas estes dias de Dezembro desmentem-nos. Um dos meus ócios outoniços é assistir à dança sincronizada das horas com as temperaturas. Há dias, como o dia 12, em que a sincronização é tão impressionante que se diria jogo combinado. Às oito da manhã estão oito graus, às nove e meia estão nove graus e meio, às 11 horas estão 11 graus, o meio-dia é bem acompanhado por um branco de 12 graus, às 13 horas sobe para 13 e às 14 para 14.

Depois é que é pior: as horas começam a ganhar, a fazer pouco do sol cansado. Às 17 horas o termómetro só consegue chegar aos 11, perdendo por seis bolas. Só às 19 horas é que há um eco (nove graus) que as oito da noite mantêm airosamente, com oito graus espelhadinhos.

Procuramos sempre a ordem nas bugigangas que arranjámos para medir as coisas. Como é que os relógios e os termómetros podem conspirar? Não interessa. Fantasia é fantasia e fantasiar é bom.

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