Respostas crianças

É deprimente a capacidade humana para a desaprendizagem. Só agora percebo o lamento dos velhos quando se riem sardonicamente e dizem que já se esqueceram de tantas coisas que é impossível saber quantas são.

Ao luar e sem vento até o frio fica bem. O céu está limpo e as estrelas estão acesas. É difícil convencer crianças a olhar para a lua. Lembram-se de quando estava cheia e custa-lhes apreciar uma lua que vai ficando cada vez mais pequena.

O meu pai ensinava-nos as constelações todas, os nomes das estrelas, as distâncias em quilómetros e em tempo. Aos 5 anos de idade já sabíamos navegar bastante bem. Éramos capazes de dizer onde ficava o Brasil, a Índia, o Canadá e o Cabo da Boa Esperança.

O meu irmão aproveitou este treino e foi para a Marinha mas eu acabei por esquecer-me de tudo e tornei-me, literalmente, um desnorteado.

É deprimente a capacidade humana para a desaprendizagem. Só agora percebo o lamento dos velhos quando se riem sardonicamente e dizem que já se esqueceram de tantas coisas que é impossível saber quantas são.

Falar com as crianças ajuda-nos a lidar com este mistério. Elas podem não ter muito para nos ensinar mas o pouco que têm é de imensa qualidade: transporta-nos para um mundo que perdemos, em que as coisas são simples e se dividem facilmente em boas e más ou assustadoras e excitantes. É um maniqueismo delicioso que ainda não se aprendeu a condenar.

A lua que parece tão próxima fica muito longe. “Nunca mais lá foi ninguém?” Não, mas é difícil explicar às crianças porquê. Acontece o mesmo com o Concorde: porque é que viajar mais depressa de avião (de Paris ao Rio de Janeiro em 4 horas e 45 minutos) pertence ao passado? O último voo foi em 2003. Já foi há tanto tempo. Ou tão pouco?

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