Mugabe não conseguiu a sua dinastia, mas há outras no continente

Quase não há monarquias em África, mas mesmo assim o poder é passado entre pais e filhos em alguns países.

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Joseph Kabila sucedeu ao seu pai, em 2001, como Presidente da República Democrática do Congo © James Akena / Reuters

Depois de quase quatro décadas no poder no Zimbabwe, Robert Mugabe preparava-se para colocar a mulher, Grace, no seu lugar, abrindo espaço a uma espécie de dinastia. O Exército decidiu intervir para proteger o legado dos veteranos da “guerra da libertação”, acabando por afastar o único Presidente que o país conheceu desde a independência. Porém, apesar dos esforços de democratização neste continente, as dinastias presidenciais continuam a subsistir em África.

Togo

A antiga colónia francesa é governada pela mesma família há 50 anos, os Eyadéma. Em 1967, o sargento Gnassingbé Eyadéma derrubou o Presidente Nicolas Grunitzky, colocado no poder quatro anos antes após um golpe militar que já tinha sido liderado por si. Eyadéma manteve a lealdade dos militares, criou um regime de partido único e assim governou o Togo durante 38 anos até à sua morte súbita, em 2005. Sucedeu-lhe o filho, Faure Gnassingbé Eyadéma, que contou com a protecção do Exército que aplacou os protestos populares contra a sua nomeação. Desde então, Eyadéma venceu duas eleições, mas as ruas continuam a não aceitar o seu Presidente.

Gabão

Quase tão duradoura como a dinastia togolesa é a do Gabão, onde os Bongo governam desde 1968. Tal como Eyadéma, Omar Bongo subiu ao poder na sequência de um golpe contra o primeiro líder da era independente, Léon M’ba, de quem era vice. A grande diferença em relação ao congénere togolês é que Bongo teve maior longevidade, conseguindo governar durante 42 anos – o recorde continental – até à sua morte em Junho de 2009. Logo na noite do anúncio da morte do Presidente, Ali Bongo, filho e ministro, apareceu na televisão nacional para confortar os gaboneses. Pouco mais de dois meses depois, Ali Bongo era eleito Presidente. A família é acusada de uma acumulação de riqueza com pouco paralelo em África, à custa dos vastos recursos naturais do Gabão, especialmente o petróleo. Uma investigação lançada em França concluiu que a família Bongo possui 39 propriedades no país e nove carros de luxo, no valor de 1,3 milhões de euros.

República Democrática do Congo

A subida da dinastia Kabila ao poder nesta antiga colónia belga foi feita sobre os escombros da ditadura brutal de Mobutu, que durou mais de três décadas. Em 1997, o líder guerrilheiro tutsi Laurent-Désiré Kabila aproveitou o caos da Primeira Guerra do Congo e, com o apoio militar de vários países da região, tomou Kinshasa. Derrubou Mobutu, enterrou o Zaire e fundou a República Democrática do Congo, mas os tiques autoritários permaneceram. Quatro anos depois, Kabila foi morto a tiro por um dos seus guarda-costas que terá agido a mando do Ruanda. O Exército assegurou a passagem de testemunho para o seu filho, Joseph Kabila, que permanece no poder, apesar de já ter cumprido os dois mandatos a que está constitucionalmente limitado. A relutância em abandonar o poder tem causado violentos protestos no país.

Guiné Equatorial

Como em qualquer boa história sobre dinastias, há sempre episódios de traições entre membros da mesma família. Foi dessa forma que, em 1979, Teodoro Obiang Nguema chegou ao poder na antiga colónia espanhola, derrubando o primeiro Presidente pós-independência, Francisco Macias Nguema, que também era seu tio – e que acabou executado. Nas últimas décadas, o boom da exploração petrolífera enriqueceu a família presidencial, enquanto a população do país que recentemente passou a integrar a Comunidade de Países de Língua Portuguesa continua a enfrentar uma existência votada à pobreza. Teodoro Obiang, que sofre de um cancro, já pensa na sucessão e na pole position está o filho, Teodorín, que é desde o ano passado o primeiro vice-presidente do país.

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