Há poucos indecisos
O mundo empurra-nos para tomar decisões como quem toma copos de água. Dão-nos prazos ridiculamente pequenos para decisões que vão afectar grandes extensões das nossas vidas.
Quando Voltaire estava a morrer os amigos dele convenceram um padre a abençoá-lo. Sentou-se na cama dele e perguntou-lhe se renunciava o diabo e a todos os seus aliados. Voltaire respondeu que esta não era altura de estar a arranjar novos inimigos.
Já Pascal tinha dito que faz sentido escolher o baptismo porque é sempre melhor jogar pelo seguro. Se Deus existisse, óptimo, estava tudo tratado. Se não existisse, paciência, tinham-se perdido apenas alguns minutos da vida.
Infelizmente nós estamos programados para decidir, aconteça o que acontecer e saibamos muito, pouco ou nada sobre o assunto em questão. A decisão impressiona os observadores. Se ela se revela certa ou errada já serão outros observadores a, lá está, decidir.
Felizmente também temos em nós uma capacidade quase infinita para a indecisão. A indecisão valiosa é aquela que reconhece ainda não ter todos os dados necessários para decidir. É uma indecisão que tem a coragem de esperar, que tem a vontade de continuar a investigar até chegar à satisfação.
Há quem decida uma coisa e logo mude de ideias, saltando de decisão em decisão. Essa é a pior das indecisões: é uma falsa indecisão. É uma mera promiscuidade deliberativa.
O mundo empurra-nos para tomar decisões como quem toma copos de água. Dão-nos prazos ridiculamente pequenos para decisões que vão afectar grandes extensões das nossas vidas. É por isso que há tanta gente, hoje em dia, que se diz vítima de más decisões. Será que chegaram a decidir? Será que sabem o que é?