Não há pecado nestes bolos crus de frutos secos, fruta e cacau

André Braga e Sara Cabrera são os responsáveis pela Ema Cru.

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Sobre os pratos estão cinco muffins redondinhos, corpos em camadas e topos coloridos, de morango e de mousse de cacau (dois com raspas de lima, outro com laranja). Chamam-lhes muffins por causa do formato, mas as semelhanças com um bolo convencional ficam-se por aí: as sobremesas da Ema Cru não levam ovos, farinha ou açúcar. Não são sequer cozinhadas. São “delícias cruas e veganas”, definem André Braga e Sara Cabrera, de 29 e 23 anos.

Na lista de ingredientes, apenas frutos secos (noz, caju ou noz pecana), fruta fresca e cacau, consoante a receita, que as tâmaras, o óleo de coco e o agave ajudam a unir por camadas. O processo de congelamento faz o resto e depois é servido como semifrio. Para sobremesa, ao lanche ou como pequeno-almoço.

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“Os ingredientes estão todos no seu estado natural, por isso são facilmente assimilados e não há perda de nutrientes”, aponta André, enumerando os benefícios associados à ingestão de alimentos crus. A preocupação com a alimentação está na base da criação da Ema Cru. Com o projecto alinhavam-se três coisas importantes: “ética, prazer e saúde”, indica André. Essa é  uma das razões por que começaram pelas sobremesas.

“Normalmente, as alternativas [convencionais] são tão más. São como as pessoas as sentem: pecados que nos damos ao luxo de cometer de vez em quando”, afirma André. “Há uma margem tão grande de mudança que acho que é quase mais urgente focarmo-nos completamente [nas sobremesas] e tentarmos crescer pouco a pouco para torná-las uma parte presente na vida das pessoas”, diz.

André é vegetariano há mais de dez anos, quando começou a seguir as pisadas alimentares do irmão Rui, de 33. Foi entre eles que o projecto foi surgindo. Na altura, André estava a morar em Londres, onde trabalhava como engenheiro informático. “O Rui foi visitar-me e, como lá existem restaurantes exclusivamente crudívoros, fomos a um e lembro-me que, quando chegou a parte das sobremesas, pedimos todas e foi uma surpresa”, recorda. Eram “incríveis”. Da refeição não surgiu qualquer ideia de negócio mas “Rui voltou para Portugal e começou a fazer experiências”. Quando regressaram a casa dos pais pelo Natal, já havia uma receita de “cheese cake” para a ceia. “É o nosso clássico e é o original [feito pelo Rui]”, conta André.

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Quando, pouco depois, a mãe adoeceu, os dois voltaram para o Estoril e decidiram apostar nas sobremesas crudívoras. “Queríamos aplicar a nossa energia nalguma coisa e a alimentação sempre foi uma preocupação nossa”, recorda. Nascia assim a Ema Cru. Entretanto, a mãe recuperou e Rui regressou à comunidade Tamera, onde vive, acompanhando o projecto à distância. A partida do irmão coincidiu com a vinda da namorada, Sara, espanhola.

No Verão do ano passado, o casal decidiu dedicar-se a 100% ao projecto. Actualmente, sentem que estão a entrar numa fase de maior conforto, em que podem “ir mais além”, sem estarem “sufocados com os custos”. Além das encomendas e da participação em mercados, estudam agora novas receitas e parcerias com a restauração. Para Sara, tem sido “um desafio bonito”, também a título pessoal. Tornou-se vegetariana, regressou ao curso de nutrição, “agora com uma ambição diferente” e sob um ponto de vista “menos tradicional”. Começou a cozinhar. “Já me safo muito bem”, ri-se. “Tenho vontade de mostrar que ser vegano pode ser delicioso”.

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